Resumo |
A ilha de Marajó é um importante “wetland” localizada na bacia Amazônica, constantemente apontada como um dos principais sistemas terrestres a alcançar estágios críticos com as mudanças climáticas globais, implicando em impactos de grande escala ecológica. Pode ser subdividida em duas porções principais: as terras altas bem drenadas (10 a 35 m de altitude) no sul e oeste, sob floresta tropical; e as planícies alagadas (“wetlands” com cotas altimétricas entre 1 e 9 m) sujeitas a inundações anuais, sob o domínio de vegetação campestre. Nas “wetlands”, os padrões de inundação afetam a vegetação por meio de vários fatores, incluindo a duração dos ciclos de inundação, profundidade, e dos eventos de inundação. Os padrões de inundação podem tanto favorecer quanto desfavorecer a produtividade vegetal. Quando inundados criam condições anóxicas limitantes ao metabolismo vegetal e alteram a dinâmica geoquímica do meio ou, ainda, favorecer, a introdução de nutrientes para o meio. Nesse contexto, e afim de estudar o contraste entre os campos e florestas do leste da Ilha de Marajó, esse trabalho teve como objetivo utilizar a análise de cluster hierárquico, para o agrupamento de solos; e análise de componentes principais (PCA), para a identificação das principais variáveis envolvidas no processo de agrupamento. Para isso, foram utilizados dados de análises químicas e físicas de horizontes de 15 perfis de solos da Ilha de Marajó. A análise de clusters dos dados químicos e físicos permitiu identificar 4 grupos bem definidos, sendo os grupos 1,3 e 4 mais próximos; e grupo 2, mais isolado dos demais. Os dois primeiros componentes da PCA explicam 54.5% da variância dos dados. O grupo 1 (solos de campo hidrófilo) mostrou altas correlações com S-, Ca2+, Mg2+, Na+ e, consequentemente, de soma de bases, saturação por bases e capacidade de troca de cátions. O grupo 2 (solos sob floresta) se caracterizou pela maior relação com areia grossa e fina, densidade da partícula e P (Mehlich-1). O grupo 3 (solos de campo hidrófilo) teve forte correlação com CTC, K+, argila dispersa em água, Mn, Cu, B, silte e argila. Já o grupo 4 (solos de campo higrófilo) teve como variáveis que melhor os explicaram aquelas ligadas a acidez, como Al3+, acidez potencial, matéria orgânica e Fe2+. No período úmido, os solos sob campos (G1, G3 e G4) são inundados, o que viabiliza a atividade redutora de microorganismos e consequente geração de íons potencialmente fitotóxicos, como S-, Fe2+ e Mn2+. Quando secos, o pH reduz, aumentando a solubilidade de metais como Fe2+ e Mn2+, promovendo a dissolução de silicatos e liberação de Al3+. Nos solos sob floresta (G2), a melhor drenagem limita a atividade de íons potencialmente fitotóxicos e viabiliza o desenvolvimento radicular pela disponibilidade de oxigênio. A anoxia e suas consequências parecem fatores determinantes para a manutenção ou não de vegetações muito diferenciadas no leste da Ilha de Marajó. |