Resumo |
Por intermédio das mudanças organizacionais, o papel dos gerentes sofreu impactos como regimes mais intensificados, jornadas de trabalho mais longas, incertezas quanto à carreira e insegurança no emprego (Debus et al. 2019; Hamouche & Marchand, 2021). Este novo quadro contribuiu para aumentar a carga psíquica no trabalho e com isso, novos tipos de sofrimento (Duarte & Dejours, 2019; Dashtipour & Vidaillet, 2017). Este estudo teve como objetivo descrever e analisar as percepções de prazer e sofrimento no trabalho desses indivíduos. Para tanto, utilizou-se a abordagem da psicodinâmica do trabalho, que se apoia no entendimento das relações entre a subjetividade, o trabalho e a ação (Dejours, 2004; 2012; Dejours et al., 2011; Gernet, 2016; Macedo & Heloani, 2018). Esta pesquisa teve natureza descritiva e uma abordagem quantitativa e qualitativa (Gil, 2008). Para a coleta de dados, foi realizado um questionário composto por itens sociodemográficos e pela Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST), de Mendes e Ferreira (2007), onde obteve-se 220 respostas e foram entrevistados 26 gerentes. Os dados quantitativos foram submetidos à estatística descritiva e análise fatorial exploratória (AFE), e os qualitativos por análise de conteúdo. Chegou-se aos respondentes pelo critério da “bola de neve”. Após a realização da AFE, a configuração obtida coincidiu quase que integralmente com a da EIPST. Foram suprimidos dois fatores por apresentarem comunalidade menor que 0,5. Na descrição de cada fator das vivências de prazer, a liberdade de expressão com média 3,79 e desvio padrão de 0,76, indicou satisfação de 61,82% dos respondentes; e a Realização profissional, teve média geral de 3,93 com desvio padrão de 0,78, com 66,82% dos respondentes considerando satisfatória. A identificação com as tarefas desenvolvidas, o sentimento de orgulho pelo trabalho e o reconhecimento por meio de status social são as principais fontes de prazer nos gerentes. Nos fatores que indicam as vivências de sofrimento, o Esgotamento Profissional se apresentou como crítico com média geral de 2,82 e desvio padrão de 0,90; e a falta de reconhecimento apresentou média 2,00 e desvio padrão de 0,83, sendo interpretado como satisfatório. As fontes de sofrimento estão relacionadas ao estresse, sobrecarga e ao esgotamento emocional. Os perigos do esgotamento profissional são alertados pelos gerentes, pois podem trazer adoecimento do corpo e da mente, como depressão e ansiedade. Mesmo reconhecendo algumas vivências de sofrimento, os gerentes exaltaram o prazer advindo do trabalho e das ações gerenciais. Falas voltadas a “não dar conta” e “não conseguir” também apontam a frustração como indício de sofrimento decorrente das diferenças entre trabalho real e prescrito. A contribuição deste estudo está em auxiliar a compreensão de como as transformações organizacionais afetam subjetivamente os gerentes e aumentam a carga psíquica do trabalho. |