Resumo |
No período de 2020/2021, em função da pandemia da Covid-19, trabalhadores, gestores e organizações têm enfrentado mudanças significativas na organização do trabalho, nas condições de trabalho e nas relações socioprofissionais. Tais transformações como home-office, prolongamento das jornadas de trabalho, demissão de trabalhadores, fechamento de organizações, dentre outras, afetam diretamente a ação e o trabalho dos gestores (Santos et al., 2020; Souza, 2021). Diante do exposto, esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar as percepções dos gestores sobre os fatores críticos, com seus respectivos custos, que podem comprometer sua saúde mental e que passaram a compor seu contexto de trabalho durante a pandemia. Para alcançar tal objetivo utilizou-se o marco teórico da ergonomia da atividade e da psicodinâmica do trabalho. A pesquisa foi descritiva, de abordagem qualitativa e quantitativa. A coleta de dados foi realizada com gestores de diversos setores da economia selecionados por acessibilidade, disponibilidade e bola de neve. Foram analisados 220 questionários, compostos por dados sociodemográficos e profissionais, Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT) e Escala de Custo Humano no Trabalho (ECHT), validadas por Mendes e Ferreira (2007), e 26 entrevistas semiestruturadas. A análise dos dados se deu por estatística descritiva uni e multivariada, e análise de conteúdo. Foi realizada a Análise Fatorial Exploratória da EACT e da ECHT com o objetivo de descobrir a melhor disposição de itens das escalas utilizadas por fatores para o grupo de gestores pesquisados. Em relação ao contexto de trabalho, a maior média foi a Fiscalização da tarefa e do desempenho (3,81), considerado como grave. As cobranças (2,70) e as relações socioprofissionais (2,66) foram interpretadas como críticas. Em relação ao custo humano no trabalho, as médias do custo cognitivo (4,24); custo afetivo moral (2,51), afetivo emocional (3,36) e físico (membros superiores) (2,43) os indicam como críticos. Os gestores sofrem pressão e cobranças por metas consideradas inatingíveis, independentemente da pandemia. E justificam esta situação como inerente a função gerencial. Com a pandemia e o home-office aumentou o desequilíbrio entre o pessoal e o profissional. Os gestores apontam que as relações interpessoais pessoais estão fazendo falta e que os conflitos são raros. Durante o home-office, o ambiente físico de trabalho não é adaptado, acarretando custos físicos. Os sentimentos de frustração, de não conseguir se desligar do trabalho e de que tudo poderia ser diferente, de insegurança foram aflorados na pandemia aumentando os custos cognitivos e afetivos. Este estudo contribui identificando os fatores críticos do contexto do trabalho e dos custos relacionados ao trabalho na pandemia, onde os próprios gestores podem formular e implementar mudanças organizacionais que busquem aumentar o bem-estar no trabalho e aperfeiçoar suas práticas de gestão. |