Resumo |
A soja (Glycine max) foi introduzida no Brasil no final do século XX, no estado de São Paulo, e a partir de 1950 sua área cultivada expandiu de forma rápida. O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de soja, sendo essa leguminosa cultivada em quase todo território nacional. As doenças estão entre os principais fatores limitantes à produção. Uma doença que teve um grande destaque na cultura da soja, por ter sido devastadora, foi o cancro da haste (Diaporthe aspalathi), detectada pela primeira vez em 1989 no Paraná, sendo disseminada rapidamente por todas regiões produtoras. Atualmente, a doença é controlada pelo uso de variedades resistentes. Com a massiva introdução de novas variedades no mercado, tem-se observado uma ressurgência da doença, levantando a possibilidade de ocorrência de novas raças e mesmo outras espécies patogênicas associadas ao cancro da haste. Assim, este trabalho teve como objetivo efetuar levantamento de isolados fúngicos pertencentes ao gênero Colletotrichum associados a plantas com sintomas iniciais de cancro da haste, antracnose, quebra da haste e acamamento da soja, além de verificar se há variação na patogenicidade desses isolados. Os isolados foram obtidos por isolamento direto de plantas sintomáticas e separados de acordo com o tecido vegetal no qual foi obtido, ou seja, haste, vagem e semente. Para identificação dos isolados foi utilizada uma abordagem polifásica, com morfometria e filogenia multilocus, utilizando sequências das regiões ITS e β-tubulina. A patogenicidade foi testada por meio da aspersão de suspenção de inóculo em folhas com ferimentos e com inserção de palitos de dentes colonizados na base da haste. Os isolados obtidos apresentaram morfologia típica da espécie C. truncatum, com colônias acinzentadas em meio BDA e meio MEA, presença de setas nos acérvulos e conídios unicelulares, falcados e hialinos. Na árvore filogenética obtida por análise de Máxima-Verossimilhança, houve a formação de um clado, com alto valor de bootstrap (95%), onde os isolados deste trabalho agruparam com sequências de isolados de C. truncatum. Nos testes de patogenicidade somente a inoculação por palito de dente diferenciou do controle. Apenas um isolado (CDA 2249) não foi patogênico, os demais isolados foram capazes de induzir sintomas na haste das plantas. Não foi observada uma variação na patogenicidade relacionada com a parte da planta de onde cada isolado foi obtido. Demonstrou-se neste trabalho a existência de isolados fúngicos do gênero Colletotrichum associados a plantas com sintomas iniciais de cancro da haste, quebra da haste, antracnose e acamamento da soja. Estudos filogenéticos envolvendo diferentes regiões gênicas e morfometria permitiram a identificação da espécie C. truncatum. Testes de patogenicidade demonstraram haver uma variação da patogenicidade entre os isolados, mas essa variação não foi correlacionada com a obtenção de isolados a partir dos diferentes órgãos da planta. |