Resumo |
Introdução: Há evidências de uma relação direta entre obesidade e hipertensão arterial sistêmica (HAS), mas estudos com dados de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) são escassos. Essa é uma lacuna importante, pois a MAPA, além de ser um método de aferição mais acurado, permite avaliar importantes marcadores prognósticos de risco cardiovascular, como o descenso noturno (DN). Objetivo: Investigar os efeitos das alterações no peso corporal sobre a PA ambulatorial entre indivíduos com risco cardiovascular em terapia nutricional. Material e métodos: Estudo prospectivo realizado com indivíduos atendidos pelo Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular (PROCARDIO-UFV), no período de 2018 a 2019. Foram recrutados, na linha de base, 28 participantes com idade (≥ 20 anos), de ambos os sexos, com doença cardiovascular pré-existente ou fator de risco associado e com excesso de peso. Foram coletados dados antropométricos e de composição corporal. A pressão arterial (PA) casual foi aferida por meio de aparelho oscilométrico, e foi realizada a MAPA de 24 horas. Após 6 meses de intervenção nutricional, os participantes foram convidados para realizarem novamente a MAPA e para a coleta de dados do seguimento. Participaram desta segunda etapa 6 indivíduos (21,4%). O DN ausente/atenuado foi considerado como queda relativa da PA no sono comparada à vigília inferior a 10%, e HAS quando PA casual ≥ 140/90 mmHg, PA na MAPA ≥ 130/80, 135/85 e 120/70 mmHg nas 24 horas, sono e vigília, respectivamente, ou uso de medicamentos anti-hipertensivos. Para análise dos dados foi utilizado o teste t pareado e a correlação linear de Spearman. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFV (Of. Ref. nº 066/2012). Resultados: As médias de peso, perímetro da cintura, índice de massa corporal, razão cintura-estatura, razão cintura-quadril e % de gordura corporal foram de 92,59 Kg (±14,90), 106,09 cm (±12,25), 33,80 Kg/m² (± 7,04), 0,96 (± 0,09), 0,64 (±0,07) e 34,14% (±8,37), respectivamente. A frequência de HAS foi de 68% considerando a medida casual e de 71% considerando a MAPA, e 57% apresentaram DN ausente/atenuado. Após 6 meses de seguimento, não foi observada diferença estatisticamente significativa (p>0,05 no teste t pareado) nos valores de PA e em variáveis antropométricas e de composição corporal. No entanto, os participantes apresentaram menores médias de frequência cardíaca no período do sono (68,9 bpm ±9,7 x 62,6 bpm ±12,6, p=0,030) e de DN diastólico (24,5% ±6,2 x 18,0% ±7,5, p=0,047) após 6 meses em relação à linha de base. Não houve correlação entre as alterações no peso corporal e na PA durante o seguimento. Conclusão: Após 6 meses de seguimento de indivíduos com risco cardiovascular em terapia nutricional, não foram observadas reduções estatisticamente significativas em indicadores antropométricos e de composição corporal e na PA, com ausência de correlação entre as mudanças nesses parâmetros. |