Resumo |
A hemogasometria arterial é o exame preconizado para análises da distribuição de gases em um organismo vivo, bem como pH, eletrólitos, lactato e outros analitos. Por ser considerado uma análise onerosa, não é massivamente presente na rotina Médica Veterinária. O presente trabalho objetiva relatar as alterações da hemogasometria arterial e a importância de sua identificação precoce, durante um procedimento anestésico de um cão macho, não-castrado, dois anos de idade, Golden Retriever, submetido à cirurgia para correção de ruptura de ducto torácico. O paciente foi apresentado clinicamente com emagrecimento progressivo, hiporexia, dispneia e letargia, com grande quantidade de líquido intratorácico, identificado como quilo após toracocentese e análise laboratorial. Após evolução de um ano com o insucesso do manejo clínico, optou-se pelo tratamento cirúrgico. Por se tratar de um procedimento de toracotomia e celiotomia conjuntos, a monitorização intensiva se torna crucial para segurança e sobrevida do paciente. A monitoração indireta por meio de equipamentos como oxímetro e capnógrafo pode perder a acurácia devido a manipulação de órgãos vitais no decorrer do procedimento. Desta forma, os parâmetros obtidos pela hemogasometria arterial são muito relevantes, uma vez que mantêm correlação fisiológica com os demais parâmetros cardiorrespiratórios. Durante o procedimento cirúrgico, houve redução da pressão arterial de oxigênio (PaO2) e aumento da pressão arterial de gás carbônico (PACO2), mesmo com ventilação pulmonar mecânica e estabilidade dos valores obtidos no oxímetro de pulso e capnografia. A redução da PaO2 e aumento da PaCO2 foram associados à compressão e deslocamento dos pulmões, o que dificultou a ventilação alveolar. A identificação precoce dessa alteração permitiu a orientação das manobras cirúrgicas, reduzindo a compressão dos órgãos e minimizando seus efeitos sistêmicos, assim como ajustes da ventilação. Houve redução no pH arterial com retorno aos limites de normalidade após correção da ventilação, evidenciando a capacidade do organismo em responder às alterações cardiorrespiratórias. Todas as alterações observadas são esperadas em procedimentos dessa magnitude, entretanto não seriam identificadas precocemente sem a hemogasometria, do mesmo modo que a resposta ao tratamento implementado. A identificação precoce de alterações em parâmetros fisiológicos durante a anestesia previne complicações transoperatórias, aumentando a segurança do ato anestésico. Embora tenha havido alteração nos valores de oxigênio, CO2 e pH arteriais, a correção rápida possibilitou a prevenção de efeitos deletérios secundários resultantes da má oxigenação. Desse modo, conclui-se que a hemogasometria arterial possui caráter preditivo, que contribui para a segurança do ato anestésico e deve ser considerada em procedimentos cirúrgicos de grande porte, mesmo representando custo ainda elevado. |