Resumo |
Gastropatias são diagnosticadas com frequência na clínica médica de cães e gatos e uma das possíveis complicações é a ulceração gastrintestinal, que pode evoluir para perfuração, peritonite, sepse e óbito. Dentre as causas da ulceração gastrintestinal estão toxicoses químicas, reações adversas ao uso de anti-inflamatórios não-esteroidais e corticosteroides, doença inflamatória intestinal, mastocitomas, insuficiência renal, insuficiência hepática, coagulação intravascular disseminada, choque, trauma e isquemia. Em cães, são mais comuns em região de antro, piloro e duodeno proximal. Objetiva-se relatar o caso de um paciente canino, atendido no Hospital Veterinário da UFV, 10 anos, 28 kg, SRD apresentando prostração repentina, aumento de volume abdominal, hiporexia e episódios de êmese com alimento parcialmente digerido. Ao exame clínico, foi observada distensão abdominal com balotamento positivo e apatia. Em ultrassonografia abdominal, observou-se aumento prostático, espessamento peritoneal, pregueamento de alças, líquido livre de alta celularidade e espessamento da mucosa estomacal. Aos exames hematológicos e bioquímicos séricos, observou-se anemia normocítica normocrômica, leucocitose por neutrofilia com desvio de 3%, monocitose e linfopenia, trombocitopenia, azotemia, aumento de fosfatase alcalina e gamaglutamiltransferase, hipoalbuminemia, hiperbilirrubinemia e hiperfosfatemia. Em avaliação urinária, foi observada turbidez, proteinúria, presença anormal de leucócitos e hemácias e relação proteína creatinina urinária de 1,32. A análise de líquido cavitário mostrou grandes quantidades de hemácias e neutrófilos, bactérias e poucos bastonetes intra e extracelulares – grande parte das células encontrava-se degenerada. O paciente foi submetido a celiotomia exploratória que permitiu identificar peritônio reativo, alças intestinais hiperêmicas, grande quantidade de líquido turvo e úlcera em região de piloro. Foram realizadas sucção do líquido intra-abdominal e coleta de amostra do mesmo, seguidas de gastrorrafia realizada em dois padrões de sutura: simples interrompido e Cushing. A cavidade abdominal foi lavada com solução salina estéril aquecida e procedeu-se miorrafia com padrão de sutura Sultan seguida de redução de subcutâneo com padrão simples contínuo e dermorrafia em padrão simples interrompido. Foi prescrito amoxicilina com clavulanato de potássio, metronidazol, enrofloxacina, omeprazol, sucralfato, tramadol e dipirona. O paciente foi atendido durante o período pós-operatório no setor de emergência apresentando quadro de ascite, taquipneia e prostração. Em ultrassonografia foi observada esplenomegalia com presença de nódulo, presença de líquido livre, pregueamento intestinal e hiperecogenicidade generalizada compatível com peritonite. Foi realizada fluidoterapia de reposição e drenagem de 2,6 litros de líquido abdominal, com consequente melhora clínica do paciente e posterior evolução favorável do quadro clínico. |