Resumo |
No atual cenário pandêmico do coronavírus, os governantes, em todo o mundo, têm proferido discursos para expor as medidas sociais e econômicas delineadas para o enfrentamento de consequências da doença. Na esteira de Charaudeau (2012a), ao discursar, o político, na qualidade de enunciador, procurará projetar determinadas imagens, ou seja, determinados ethé, de modo a se construir digno de crédito perante seus governados. Partindo dessas considerações, o presente trabalho objetiva analisar os ethé construídos por dois políticos brasileiros – João Dória, governador do estado de São Paulo pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Jair Bolsonaro, presidente da república e sem filiação partidária – em discursos oficiais cujo tema tratado foi o coronavírus. Para isso, foram selecionados os discursos realizados no mesmo dia, 24 de março de 2020, pelos referidos governantes. Partimos de hipótese de que os ethé construídos por esses políticos evidenciariam uma divergência de posicionamentos já demarcada por determinados veículos da imprensa brasileira. Nosso aporte teórico abrangeu os estudos de Charaudeau (2008), segundo o qual os sujeitos, ao interagirem nos diversos atos linguageiros, estabelecem determinadas imagens de si, com base nas imagens que atribuem aos seus destinatários. Valemo-nos também dos estudos sobre o ethos propostos por Amossy (2018), para quem o orador mobiliza imagens de si em seu discurso para autenticar o argumento apresentado. A partir da análise empreendida, foi possível averiguar como o Dória e o Bolsonaro delineiam as imagens de: legitimidade, credibilidade, potência, responsabilidade, humanidade, competência, chefe dentre outras. Nossa hipótese de pesquisa foi refutada, posto que evidenciamos uma convergência nos ethé instaurados e, também, nas estratégias discursivas utilizadas: ambos buscam defender pontos de vista de forma a se mostrarem dignos de crédito não só para a população, mas também para a imprensa e para a iniciativa privada. |