Resumo |
O ano de 2020 está sendo marcado por vários acontecimentos na sociedade brasileira, porém, o episódio mais relevante, sem dúvida, é a pandemia causada pela Covid-19. Com ela, além do caleidoscópio de emoções, é preciso lidar com as fake news disparadas não apenas pelos cidadãos comuns, mas, principalmente, por políticos mal-intencionados. Conforme Zembylas (2005), as emoções funcionam como práticas discursivas e estas desempenham um papel importante nas relações de poder que são estabelecidas pelas estruturas sociais, criando e recriando um imaginário para moldar os comportamentos, as atitudes, hábitos e as emoções das pessoas. De acordo com Fairclough (1999), as relações de dominação promovidas pelas hegemonias são sustentadas antes no consenso do que da força/coerção, pois assim ocorre a naturalização das práticas e relações sociais para a permanência das articulações fundamentada no poder. Diante disso, este trabalho se insere nos moldes qualitativos centrados no método discursivo-crítico (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999. FAIRCLOUGH, 2003), que analisa o discurso presente nas fake news elaborados para tentar manipular as emoções dos cidadãos brasileiros quanto ao uso do medicamento Hidroxicloroquina como uma possível cura para o Covid-19. Além disso, baseamo-nos nos estudos de Bentes (2018) e de D’Ancona (2018) acerca das fake news e da pós-verdade. Para investigar o papel das emoções na construção das fake news, baseamo-nos na proposta de Zembylas (2005), na qual o autor trata emoções como práticas discursivas envolvidas em complexas relações de poder dentro de uma sociedade. O recorte temporal da seleção do corpus foi entre março e maio de 2020, período em que vários relatos idênticos a respeito do uso da cloroquina como eficaz para a cura dos pacientes com Covid-19 circularam nas mídias sociais. O corpus é composto de prints de tuítes sobre o uso da cloroquina para o tratamento por Covid-19, sobre a cura de pessoas com Covid-19 ao usar o medicamento, e sobre uma possível fraude em atestados de óbito, sinalizando morte por Covid-19. Os resultados sugeriram que há uma tentativa de construção de narrativa coletiva de cura do Covid-19 por meio do uso da Cloroquina, que tenta manipular as emoções dos indivíduos para gerar emoções coletivas de ódio e desqualificar os discursos da ciência. A geração dessas Fake News age como uma forma de dominação social e fragiliza ainda mais a confiança da sociedade nas instituições científicas. |