Resumo |
Por um longo período da história as mulheres se mantiveram afastadas do processo educacional. Nos últimos anos, no entanto, as mulheres têm ingressado no ensino superior em maior escala do que os homens. Contudo, isso não implica, necessariamente, na superação das desigualdades no campo educacional. Nesse sentido, este trabalho objetiva analisar elementos da trajetória acadêmico-científica da estudante da graduação, no que se refere aos dados sobre as relações de gênero, do capital cultural e familiar no processo de socialização, tanto em sua trajetória escolar, quanto nas relações familiares, bem como as implicações de tal processo na atuação da estudante no decurso da graduação. Nosso estudo foi realizado na Universidade Federal de Viçosa, Campus Viçosa-MG e como instrumento de coleta de dados utilizamos o questionário on-line encaminhado às voluntárias via e-mail. Ao todo 156 estudantes, matriculadas em 36 cursos de graduação, responderam ao questionário. Os resultados indicaram que 54% das participantes são pertencentes a famílias com rendas de até dois salários mínimos por mês e 3% a famílias com renda acima de dez salários mínimos. Acerca do nível de escolaridade dos pais, 18% dos pais e 16% das mães têm ensino superior incompleto ou completo e 10% dos pais e 15% das mães possuem pós-graduação. Identificamos que 77% e 71% das voluntárias estudaram, respectivamente, a maior parte do Ensino Fundamental e Médio em escolas de rede pública. Sobre as relações de gênero, observamos que 53% das estudantes universitárias precisaram, modificar de alguma maneira, o seu comportamento, no que se refere à maneira de vestir, transitar em locais públicos, de se relacionar com os indivíduos etc. Com base no aporte teórico da pesquisa, compreendemos que a renda familiar, a escolarização dos pais, a trajetória de escolarização e o gênero das estudantes podem influenciar na inserção e no decurso da graduação. As estudantes oriundas de famílias com expressivos capitais cultural e econômico tendem a possuir o capital cultural experenciado pela instituição de ensino superior. As que possuem pais que estiveram inseridos no ensino superior, em linhas gerais, compreendem melhor o “jogo acadêmico”. Por fim, consideramos que no campo universitário as estudantes têm suas escolhas e percursos influenciados tanto em razão de sua classe social, quanto em decorrência de seu gênero, considerando que, com base nos dados obtidos, o fato de estar matriculada no ensino superior não implica, necessariamente, em sua inclusão no processo educacional e que, além da competência inerente, é preciso transmitir a imagem de que serão capazes de exercer as funções acadêmicas e profissionais atribuídas. |