Resumo |
Este trabalho visa estudar a construção “Quem Mandou X?” enquanto Construção Gramatical de Repreensão da Língua Portuguesa, instanciada em ocorrências como “Quem mandou ser honesto?”. Como guias para a discussão dos resultados obtidos em nossos procedimentos metodológicos, foram utilizados os pressupostos teóricos de Ferrari (2011), Martelotta & Palomanes (2017) a respeito da Linguística Cognitiva e Pinheiro (2016), a respeito do pareamento de forma e significado nomeado Gramática de Construções. Como objetivos, pretendemos legitimar a construção, bem como levantar considerações a respeito da estrutura, aprofundar e detalhar a configuração gramatical, incluindo tipos de verbos e alvos da repreensão a partir dos dados coletados para a averiguação de prováveis esquemas cognitivos e interpretações. Para a coleta dos dados a serem analisados foi feita uma busca através da ferramenta de busca avançada do Google com a expressão "Quem Mandou" em três grandes domínios da internet, que contêm grande volume de publicações diárias e de temáticas: abril.com, blogspot.com.br e uol.com.br. Foram selecionados os 50 primeiros resultados de cada um deles, totalizando 150 resultados, que foram classificados entre Repreensão, Afirmação e Verificação. A categoria Repreensão, com 33 resultados, foi selecionada para análise. Como resultados, observamos grande uso da construção gramatical nos domínios informais, uol.com.br e blogspot.com.br e menor no domínio de jornalismo formal, abril.com. Foi observada também uma relação entre os alvos da repreensão e os tipos de verbos empregados, o que demonstrou padrões como o fato de o próprio enunciador sempre repreender a si mesmo por características que possui por meio do uso de verbos estativos; e entidades serem repreendidas por ações que tomaram, através do emprego de verbos acionais. Também foi observado que as repreensões mais comuns são dirigidas a interlocutores próximos ou genéricos e a figuras públicas. A expressão “Quem Mandou X?” foi discutida de acordo com os pressupostos teóricos para ser legitimada como uma construção gramatical da língua portuguesa. A análise do emprego ou não do ponto de interrogação levou ao levantamento de hipóteses a respeito da mudança de esquema cognitivo ativados pelos falantes devido ao uso. Nossas conclusões legitimam “Quem Mandou X?” enquanto uma construção gramatical e relatam a possível mudança de esquema cognitivo através da observação dos alvos e tipo de verbos envolvidos na repreensão e do uso do ponto de interrogação. As contribuições, em estágio inicial, pretendem auxiliar a compreensão de uma inovação na língua portuguesa e auxiliar professores de língua portuguesa como língua materna ou estrangeira na compreensão dos sentidos da construção gramatical, além de observar como ocorre o processo de variação linguística. |