Resumo |
Historicamente, é difícil documentar a violência contra a mulher pois o conceito de feminicídio não existia, mesmo que o crime em si acontecesse. O feminicídio não difere cor, religião ou classe social, qualquer mulher está vulnerável apenas por ser mulher. Ao longo dos séculos, em diversos textos literários, observamos que a representação da mulher se dá de forma objetificada, em prol do uso e desejo de homens. Principalmente em obras escritas por homens, inclusive aqueles pertencentes aos cânones literários, mulheres sofrem diversos tipos de violência, desde da violência simbólica até a física. Essas representações se encontram principalmente na literatura que reforçam esses estereótipos e solidificam o lugar da mulher como o de submissão e não controle da própria vida. Por esses fatores, é importante a análise de obras que contêm essas reproduções para expor os fatores em comum que levaram à banalização da vida feminina. A não documentação desses fatos nos leva à uma impressão errônea de que os delitos não ocorriam, mas obras como as de William Shakespeare (1564-1616) nos dão um vislumbre da sociedade de sua época. Desse modo, essa pesquisa tem o intuito não só de analisar aclamadas obras de um autor importante para a literatura mundial, como também expor a violência contra a mulher historicamente através das representações literárias de William Shakespeare. Tendo tudo isso em mente, as leituras dessas obras através de ‘lentes’ modernas e feministas do século XXI requer novos pontos de vista e novas reações às mortes de suas personagens femininas. Foi feita uma pesquisa bibliográfica e documental com o objetivo de contextualizar histórica, cultural e socialmente as peças “Romeu e Julieta, “Hamlet”, “Otelo” e “Macbeth” de Shakespeare para investigar a imagem da violência contra a mulher na literatura Shakespereana e seu reflexo com a contemporaneidade. Chegamos a conclusão de que apesar de muitas das personagens femininas nas peças de Shakespeare possuírem papéis marcantes que influenciam a linha da história, quase todas não chegam vivas ao final da peça. Classificar o autor como misógino vai para além do escopo dessa pesquisa, uma vez que o nosso foco está na análise literária das tragédias. Busca-se investigar como as personagens Julieta, Ofélia, Gertrudes, Desdêmona e Lady Macbeth são marginalizadas e como as obras, intencionalmente ou não, normalizam a violência contra a mulher. |