Resumo |
Não é de hoje que inúmeros estudos sobre famílias e unidades domésticas se debruçam sobre suas características sociodemográficas. Devido a diversos fatores, mas, sobretudo, às causas da Segunda Transição Demográfica (2TD) aliadas à Transição Urbana (TU), ambas incompletas em porções significativas do território nacional, as famílias se modificaram e persistem se transformando de modo não uniforme-linear ao longo do tempo e do espaço. Assim, desde logo, presumimos que as consequências desses fenômenos mais gerais afetaram de forma diferenciada grupos populacionais e a maneira como eles organizam suas famílias em seus domicílios. Em outras palavras, arranjos domiciliares apresentam singularidades conforme raça/cor, sexo, idade, estado civil, rendimentos, natureza do domicílio e localização/situação. Não menos importantes são os câmbios segundo momentos do ciclo vital familiar. Porém, neste momento, e sendo sensíveis ao fato de que se trata de uma investigação de iniciação científica, optamos por uma análise simplesmente descritiva dos fenômenos, nos debruçando especificamente sobre o comportamento dos arranjos domiciliares e sua relação com as etapas do ciclo vital familiar. Nos limitamos a compará-los ao longo dos intervalos e dos recortes territoriais propostos. Dessa maneira, utilizamos os microdados disponíveis dos últimos 5 Censos Demográficos (1970, 1980, 1991, 2000 e 2010). Não menos importante, confrontamos os arranjos e seus estágios segundo Brasil, Sudeste, Minas Gerais e Viçosa. Para tanto, nos vimos obrigados a operacionalizar o conceito de ciclo de vida familiar através de uma regressão linear (logarítmica) simples, a partir da idade do responsável pelo domicílio. Os dados demonstram singularidades brasileiras especialmente à luz da Segunda Transição Demográfica (2TD) de países onde seus efeitos se difundiram com maior homogeneidade e profundidade. Desse modo, os resultados sobre o comportamento do ciclo vital sugerem efeitos combinados de alterações na estrutura etária da população como um todo (macroestrutura) e complexificação dos comportamentos individuais (micro). Onde, decisões individuais sobre adiamento do casamento, uniões mais fugazes, postergação do primeiro filho, etc. se associam com o próprio envelhecimento populacional, ocasionando maior efemeridade dos arranjos domiciliares, relativizando sua linearidade e provocando curiosidades do tipo: a vinculação entre estágios iniciais do ciclo vital familiar e arranjos domiciliares que, até então, eram típicos de momentos mais avançados do ciclo vital familiar. Dessa maneira, para além de uma lógica comportamental dos grupos, os resultados nos trazem indícios das mudanças nas razões axiais que condicionam a formação dos arranjos. Por último, os dados são úteis para estudos sobre demandas habitacionais e maneiras alternativas de suprimi-las tomando a mutabilidade social como preceito para uma também flexibilidade espacial do domicílio. |