Resumo |
No âmbito do Ensino Superior as práticas de leitura e de escrita são prestigiadas no tocante ao letramento acadêmico. Consequentemente, aqueles que não possuem uma primeira língua (L1) com modalidade escrita, tais como alguns grupos indígenas e os surdos, podem, dada a ausência de práticas de letramento nessa língua, serem excluídos dos processos educacionais. Especificamente para os surdos, o Decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005) aponta para a necessidade de adoção de mecanismos de avaliação em Libras, bem como coerentes com a Língua Portuguesa (LP) como segunda língua (L2). Em vista disso, objetivamos apresentar algumas reflexões sobre a produção de relatórios em disciplinas de estágio, ministradas por duas professoras distintas, e realizados por uma discente surda, em um curso de Licenciatura na Zona da Mata Mineira. Para tanto, na composição dos relatórios, a estudante contou com o suporte pedagógico de professores e monitores que integram a equipe de um projeto criado para acompanhar seu processo educacional. Na elaboração do relatório do primeiro estágio, a professora responsável solicitou que a acadêmica surda produzisse dois relatórios: em Libras e em LP escrita, sendo que o primeiro corresponderia a 70% do valor final da nota. Contudo, não foi estabelecido pela docente critérios que guiassem a produção do relatório em Libras, tampouco referentes à avaliação. A produção consistiu em: gravação das informações em Libras; avaliação dos vídeos registrados, de modo a considerar questões referentes à estrutura linguística e às informações solicitadas; e postagem do material em ambiente de armazenamento virtual. Finalizado o relatório em Libras, realizou-se, por meio de estratégias de escrita, a produção do relatório em LP, com base no produzido em Libras. Por sua vez, no segundo estágio, a professora solicitou somente a produção do relatório em Libras. Durante a produção, a docente estabeleceu uma data para a apresentação da primeira versão do relatório, para que ela fizesse uma avaliação inicial. Após as correções apontadas pela professora, a estudante produziu os vídeos e realizou as edições necessárias. Observou-se que as mesmas orientações dadas para os alunos ouvintes, que produziriam o relatório em LP, foram também dadas para a estudante surda para a produção em Libras, não havendo critérios diferenciados, nem adaptações avaliativas. Somente foi solicitado a edição dos vídeos antes da entrega final. Ao final dos estágios observou-se que, em ambos os casos, por mais que a Libras estivesse presente na atividade e fosse considerada a L1 da estudante, não ocorreram adaptações metodológicas que atendessem as especificidades da estudante e promovessem sua inclusão ao processo educacional proposto ao referido componente curricular. Diante dessas situações, destaca-se a necessidade de pesquisas que envolvam o bilinguismo e o letramento, que considerem as produções acadêmicas em Libras e o seu papel no processo educacional dos estudantes surdos. |