Resumo |
Em função da atual situação mundial advinda do novo coronavírus, causador da doença denominada COVID-19, a Organização Mundial de Saúde decretou medidas de restrição e distanciamento social que alteraram drasticamente a vida da população mundial e as relações de trabalho nos últimos meses. Sendo o trabalho uma dimensão essencial que caracteriza os seres humanos (Neffa, 2015), ele é responsável pela sobrevivência humana, por meio da produção de bens essenciais, mas também se materializa como forte fator de inserção social e como condição responsável pela construção da subjetividade e identidade dos indivíduos (Neffa, 2015; Pereira e Tolfo, 2016). Este estudo teve como objetivo geral levantar e analisar a percepção de trabalhadores, em um momento de crise, sobre o significado do trabalho. Como objetivos específicos, levantou as definições de trabalho para diversas áreas do conhecimento e dados acerca dos efeitos que crises podem causar nos indivíduos e no âmbito do trabalho. Tal pesquisa justifica-se pela necessidade de buscar um entendimento a respeito da dimensão do trabalho diante de seu papel social, econômico e psicológico para diversos tipos de trabalhadores e, também, trazer à tona as diversas mudanças nos processos de trabalho, bem como possíveis perspectivas e características das quais ele pode adquirir. A metodologia da pesquisa, de cunho qualitativo, buscou levantar a percepção de pessoas, de diversas profissões, sobre os efeitos da crise em suas vidas pessoais e profissionais. A coleta de dados foi feita através de entrevistas semiestruturadas, com dez trabalhadores, nos meses de abril e maio de 2020, que foram divididos em dois grupos, o primeiro composto por indivíduos que aderiram ao formato de trabalho remoto e o segundo com trabalhadores que forçadamente tiveram de paralisar suas atividades. Os dados coletados indicaram que para os entrevistados, o trabalho, independente de qual área esteja inserido, é um fator central e responsável pela estabilidade de diversas esferas pessoais que, em momentos de crise, sofrem drásticas alterações. Dentre essas esferas, podemos destacar a rotina pessoal e profissional que, como exposto pelos entrevistados, foi alterada abruptamente nesse momento, exigindo adaptações e aquisição de conhecimentos de maneira imediata. Foram citados também a saúde mental e física, que para eles, vem sendo abalada por fatores como a restrição das relações sociais e a incerteza em relação ao futuro do trabalho. Além disso, o grupo que teve suas atividades paralisadas demonstrou maior preocupação com as consequências econômicas da crise. Conclui-se que, além das consequências levantadas pelos respondentes, algumas mudanças necessárias nesse período de crise tendem a fazer parte do futuro do trabalho, como a intensificação do uso da tecnologia e maior adesão ao trabalho remoto. |