Resumo |
O presente trabalho visa compreender os caminhos trilhados por dois idosos (Amaro e Amélia) no âmbito do processo de escolarização e as contingências que os impediram de frequentar a escola no decorrer da vida. Para tanto, buscamos analisar estas narrativas de vida, enquanto instrumento didático-pedagógico e reflexivo em uma disciplina de Educação na Terceira Idade do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa. Para subsidiar a análise destas entrevistas foram considerados os constructos de análise: Domínios da Existência e Linhas Quebradas, propostos por Daniel Bertaux (2005). O recurso da entrevista tende a se transformar em uma conversa solene, para que a pessoa relembre e conte sua história de forma nítida e se sinta à vontade a falar, contando com riqueza experiências vividas pelo entrevistado. Como produto, foram produzidas narrativas que nos permitiram destacar algumas contingências, destacamos àquelas relativas aos estereótipos de gênero, que se materializam nas escolhas profissionais, reforçando a desigualdade no campo do trabalho e nas instâncias formativas. Na perspectiva etnossociológica de Bertaux (2010) as experiências vividas se transformam em ricos materiais históricos, possibilitando explorar conhecimentos sociográficos e sociológicos. Quando trazida para a formação de professores, revela-se como uma oportunidade de promoção do encontro intergeracional entre alunos do curso de pedagogia e idosos, com o intuito de materializar e evidenciar as vozes desses sujeitos. Além disso, o trabalho com narrativas de vida permite criar espaços de escuta entre as gerações e, concomitantemente, novas relações com o tema da velhice. A narrativa de Amélia, contrastada com a de Amaro, demonstra que as Linhas Quebradas são relativas às questões de gênero, revelando aspectos sociais e culturais que atravessam as vidas de homens e mulheres de modo diferente. Apesar de evocar memórias do passado, nos fazem observar como a sociedade contemporânea ainda carrega as marcas dos valores dos nossos antepassados, parecendo retornar vida no contexto atual no qual a luta pela igualdade de gêneros ainda é árdua e permanente. Através da análise das narrativas selecionadas é possível concluir que as trajetórias de vida, nas quais se inserem as escolares, são dependentes dos imaginários sociais de cada época e do contexto social, cultural, econômico e educacional em que essas vidas vão se constituindo, produzindo diferentes modos de existência. |