Resumo |
A interferência dos micro-organismos na fisiologia e comportamento de seus hospedeiros é bastante conhecida. Em experimentos envolvendo as relações entre Wolbachia e seus hospedeiros, é comum gerar linhagens não infectadas pela ação de antibióticos sintéticos adicionados ao meio de cultura onde as larvas se desenvolvem. Em estudos anteriores realizados no LBE-UFV com Drosophila prosaltans, verificamos que fêmeas infectadas por Wolbachia (não tratadas com antibióticos) produzem mais ovos que as fêmeas tratadas com tetraciclina, e ainda, que esta diferença é mais intensa em fêmeas não-virgens do que em fêmeas virgens, revelando uma vantagem da infecção e uma diferença fisiológica causada pelo tratamento. Mais tarde, em cruzamentos controlados envolvendo indivíduos tratados e infectados, nas quatro combinações possíveis, verificamos que machos tratados inseminam menos fêmeas tratadas que os machos infectados, marcando uma diferença comportamental causada pelo antibiótico. Não encontramos diferenças na taxa de fertilização das fêmeas nos quatro cruzamentos possíveis, mas verificamos que os cruzamentos envolvendo machos e fêmeas tratados são os que produzem menor prole, o que possivelmente resulta da combinação da alteração fisiológica nas fêmeas e comportamental nos machos. Tais experimentos, porém, foram conduzidos em tubos contendo apenas uma fêmea e dois machos, o que pode ter afetado o comportamento dos indivíduos, uma vez que é conhecido o fator densidade na probabilidade de cópula em diversas espécies de Drosophila. Reestruturamos os cruzamentos para testar o efeito da composição da arena de acasalamento na taxa de inseminação e fertilização, além de contar o número de ovos e larvas produzidos. Nos novos cruzamentos, mantivemos 10 fêmeas e 10 machos virgens de seis dias juntos durante 48h, após os quais descartamos os machos e transferimos as fêmeas individualmente para placas de petri com meio de cultura ágar e suco de uva, para permitir a contagem de ovos e larvas. Após 24h, os ovos foram contados e as fêmeas tiveram as espermatecas dissecadas para verificar a transferência de esperma. As placas contendo ovos foram mantidas por mais 48h para a contagem das larvas. Os novos resultados foram semelhantes aos anteriores, mas revelaram que fêmeas infectadas cruzadas com machos infectados geraram mais ovos que as demais combinações, ou seja, que o cruzamento com machos infectados intensifica a produção de ovos de fêmeas infectadas. Não encontramos diferenças significativas na taxa de inseminação entre as quatro combinações de cruzamentos, indicando que o efeito do tratamento nos machos tratados foi neutralizado pela composição da arena de acasalamento, possivelmente pelo aumento da densidade de machos, que pode estimular a espermiogênese, ou pelo fato de conter mais de uma fêmea, que pode ter desencadeado o comportamento de cópia da cópula, que estimula a fêmea a copular com machos que copularam com outra fêmea, aumentando a taxa de inseminação. |