Resumo |
Os artistas egressos do Concretismo e Neoconcretismo contribuíram significativamente para o design gráfico brasileiro, sendo responsáveis pela consolidação do trabalho de design no país. Porém, a literatura científica que descreve a contribuição destes artistas ainda está sendo construída. A historiografia evidencia divergências formais e teóricas entre os artistas concretistas paulistas, mais “racionais”, e cariocas, mais “intuitivos”, sendo esta questão oportuna para o desenvolvimento desta pesquisa. Assim, buscou-se identificar as abordagens dos artistas concretos paulistas e cariocas e como suas diferentes linguagens se traduziram para seus projetos de design, destacando possíveis relações e diferenças. O recorte da presente pesquisa tem como foco o trabalho gráfico dos paulistas Geraldo de Barros e Alexandre Wollner no primeiro escritório de design do país, a FormInform (1958); a identidade visual da Hobjeto (1964), criada por Geraldo de Barros para a sua empresa de móveis durantes as décadas de 1960 e 1970; os letreiros e cartazes criados pela carioca Lygia Pape para o Cinema Novo, durante a década de 1960; e a identidade visual feita por Pape para a empresa Piraquê, entre 1960 e 1992. A partir de uma metodologia baseada no Atlas Mnemosyne, do historiador de arte alemão Aby Warburg (1886-1926), foi possível criar comparações formais entre diversas imagens do período, estabelecendo relações entre os trabalhos de Pape, Barros e Wollner. Conclui-se que, em parte dos trabalhos analisados, esses artistas mantiveram no campo do design gráfico relação com suas pesquisas e produções em Artes Plásticas. A linguagem que adotaram enquanto designers dialoga com aquela que empregaram enquanto artistas, como o projeto elaborado para a Piraquê, que dialoga diretamente com princípios presentes em composições concretistas. Já o experimentalismo presente no trabalho de Pape também é observado no trabalho de Barros, pois apesar do artista ser egresso de um grupo concreto mais rígido, identifica-se o uso de diferentes linguagens, como a pintura, a fotografia, a colagem e o design, explorando diferentes processos de criação. Isso se assemelha à liberdade criativa tomada por Pape em diversos letreiros e cartazes do Cinema Novo, nos quais se compromete com a linguagem de cada filme, se distanciando dos ideais concretistas utilizados de forma mais rígida, como no trabalho gráfico de Wollner. Ademais, mesmo havendo diferenças conceituais entre paulistas e cariocas, nota-se que de forma geral esses artistas estiveram engajados em contribuir na construção de uma linguagem condizente a um país moderno, industrializado e avançado em voga no período em que se construía um amplo projeto de modernidade. |