Resumo |
A hérnia diafragmática peritoneopericárdica (HD) é uma anomalia congênita que permite a comunicação entre as cavidades pericárdica e peritoneal com eventual migração de órgãos abdominais para o interior do saco pericárdico. Os sinais clínicos variam de acordo com os órgãos herniados, geralmente o diagnóstico é feito de maneira acidental e embora a maioria dos animais permaneça assintomática, a ausência do tratamento pode resultar em prejuízos das funções cardiorrespiratórias, como insuficiência cardíaca, o que representa um desafio para realização do procedimento anestésico. Objetiva-se relatar o caso de um cão macho, sem raça definida, 14 kg, 13 anos de idade, diagnosticado com HD, que deu entrada no atendimento médico veterinário apresentando prostração, intolerância ao exercício, dispneia, baixo escore corporal e abafamento de bulhas cardíacas. Exames de imagem evidenciaram ausência de fígado e estômago em topografia habitual e aumento de silhueta cardíaca. O paciente foi encaminhado para tratamento cirúrgico. Como medicação pré-anestésica, foram realizadas metadona 0,3mg/kg e acepromazina 0,03mg/kg por via intramuscular (IM), seguidas de indução da anestesia com cetamina 1mg/kg e propofol 2mg/kg por via intravenosa (IV). Foi realizado bloqueio periglótico (Lidocaína 2% 0,2 mL), entubação do paciente, seguida de ventilação pulmonar mecânica. Foi realizada monitoração de parâmetros cardiovasculares e respiratórios. A anestesia foi mantida com isofluorano, por via inalatória, e remifentanil 5mcg/kg/h IV. O paciente se manteve estável até a rafia diafragmática, quando apresentou ritmo juncional no eletrocardiograma (ECG), seguido de assistolia. Foram realizadas manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP) e administração de adrenalina 1mg/kg IV. O paciente retornou às funções vitais após dois ciclos de reanimação, apresentando complexo ventricular prematuro e hipotensão arterial. Iniciou-se tratamento IV com bólus de lidocaína 2mg/kg seguido de infusões de norepinefrina 1mcg/kg/min e dobutamina 3mcg/kg/min, com retorno à normotensão. O retorno anestésico ocorreu uma hora após a suspensão da anestesia quando foi realizado desmame dos fármacos vasoativos. Analgesia pós-operatória foi estabelecida com morfina 0,3mg/kg, cetamina 0,5mg/kg e meloxicam 0,2mg/kg, IV. Após retorno anestésico, o animal foi removido da unidade de terapia intensiva (UTI) contra recomendação médica e após 48 horas do procedimento teve nova parada cardiorrespiratória e veio a óbito. A correção cirúrgica da HD é um procedimento de alta complexidade e como tal, está relacionada à maiores índices de complicações transanestésicas, como parada cardíaca. Adicionalmente, a ocorrência de uma segunda parada cardíaca é frequente devido a eventos fisiopatológicos secundários à isquemia e reperfusão, tornando imprescindíveis a realização de monitoração e cuidados intensivos no trans e pós operatórios, especialmente em pacientes idosos, influenciando diretamente na sobrevida do paciente. |