Resumo |
A anestesia epidural lombossacra é uma técnica consagrada na Medicina Veterinária para realização de procedimentos cirúrgicos caudais à cicatriz umbilical. Embora de simples execução, não é isenta de riscos e possui contraindicações para pacientes com hipotensão, hemorragia, coagulopatias e sepse. Objetiva-se relatar o atendimento de uma cadela adulta, SRD, apresentando redução da consciência, caquexia, desidratação, hipotermia e mutilação do membro pélvico esquerdo com exposição e necrose do fêmur e músculos. Nos exames laboratoriais foram identificados anemia grave, leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda (18%) e importante hipoproteinemia. Em função do quadro de sepse e das demais alterações apresentadas, a paciente foi classificada como ASA V, conforme a Sociedade Americana de Anestesiologia. A gravidade das alterações exigiu que o procedimento de amputação do membro fosse realizado no mesmo dia. Mesmo ciente das contra indicações para a técnica epidural, considerou-se que a depressão cardiovascular promovida pelos anestésicos gerais seria mais deletéria que os efeitos sistêmicos da técnica locorregional. Deste modo optou-se pela realização da anestesia epidural como técnica única. Assim, para garantir analgesia eficaz durante o procedimento, utilizou-se a técnica epidural lombossacra com lidocaína 2% (0,1 ml/kg), ropivacaína 0,75% (0,1 ml/kg) e morfina 1% (0,01 ml/kg). A condição da paciente também permitiu a realização da anestesia sem a necessidade de sedação, sendo mantida apenas a suplementação de oxigênio via máscara facial. Foi mantida monitoração multiparamétrica onde verificou-se estabilidade dos parâmetros cardiovasculares e respiratórios durante o procedimento, que ocorreu sem intercorrências. A analgesia epidural se manteve por 24 horas após a amputação, quando foi iniciado tratamento com tramadol (4 mg/kg VO). Após 24 horas de tratamento intensivo, a paciente foi encaminhada para tratamento em leito clínico e se recuperou completamente. O uso da anestesia epidural lombossacra com lidocaína, ropivacaína e morfina se mostrou eficiente, seguro e promoveu analgesia trans e pós operatória, com estabilidade cardiovascular em paciente com sepse, demonstrando ser uma alternativa quando o risco do uso de anestésicos gerais se sobrepõe. |