Resumo |
A Atrazina (ATZ) é um herbicida triazínico cujo consumo anual mundial é de aproximadamente 70.000 a 90.000 toneladas, sendo assim um dos mais consumidos no mundo. Devido à persistência em sistemas aquáticos e à capacidade de danos em células e tecidos, esse herbicida foi banido em alguns países da União Europeia. Apesar da proibição e regulamentação, a ATZ é frequentemente detectada em ambiente aquático em concentrações acima das permitidas. A contaminação desses ambientes pode prejudicar organismos não-alvo como peixes. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar as defesas antioxidantes das brânquias de juvenis do peixe Neotropical lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax altiparanae) expostos a concentrações ambientalmente relevantes de Atrazina (0, 0.5, 1, 2 e 10 µg/L) por 35 dias, a fim de avaliar a reação à exposição crônica. Os peixes foram pesados e alocados aleatoriamente em aquários de 60 litros (n=30/aquário) com aeração e temperatura controladas, em regime semi-estático e distribuídos em 5 tratamentos (4 replicatas/tratamento). Ao final do experimento, os animais foram eutanasiados com metanosulfonato de tricaína (MS-222). As brânquias foram retiradas por meio de incisão opercular, homogeneizadas, centrifugadas e o sobrenadante resultante foi utilizado para a determinação da atividade das enzimas antioxidantes Superóxido dismutase (SOD), Catalase (CAT) e Glutationa S-transferase (GST). Os dados foram submetidos à análise de variância unifatorial (ANOVA) seguida do teste Tukey para comparações múltiplas. Como resultado, houve aumento da atividade de CAT no grupo exposto à 10 µg/L de Atrazina, em relação ao controle. Também se observou um aumento da atividade de GST em todos os grupos expostos à ATZ quando comparados ao controle. CAT e GST são enzimas importantes no combate às espécies reativas de oxigênio (ROS) induzido por xenobióticos. Visto que GST é uma enzima com capacidade de conjugar compostos potencialmente reativos à glutationa (GSH), para fins de desintoxicação, seu aumento indica que a via desintoxicante nas brânquias está possivelmente ativa realizando conjugação dos metabólitos de ATZ à GSH. A CAT é uma enzima capaz de catalisar a degradação do peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. Esse processo é essencial pois essa espécie reativa pode se difundir facilmente através das membranas celulares, onde há metais de transição disponíveis, culminando na geração do radical OH•, o radical livre mais propício à produção de danos oxidativos, contra o qual não há sistema enzimático de defesa. O aumento da atividade CAT sugere a ativação de uma enzima específica para eliminar as ROS induzidas por ATZ. Outros estudos são necessários para entender os efeitos da Atrazina no estresse oxidativo celular das brânquias nesta espécie. |