Resumo |
Os besouros do gênero Pselaphacus Percheron, 1835 (Coleoptera: Erotylidae) vivem associados a basidiomas de fungos Polyporaceae. Há 30 espécies conhecidas, todas neotropicais, 15 com registros no Brasil. Pselaphacus nunca foi taxonomicamente revisado e as informações limitam-se às descrições originais, as quais incluem basicamente aspectos da coloração e poucas características morfológicas, mas nenhuma descrição de terminália abdominal, metendosternito, aparelho bucal, base alar ou outras estruturas importantes. O uso da coloração como característica diagnóstica de espécies de Erotylidae era uma prática comum até meados do século XX. Porém, o policromatismo é bem documentado para a família e várias espécies, antes separadas por coloração, tem sido sinonimizadas. Indivíduos que se enquadram nas descrições de Pselaphacus dentatus Germar, 1824 e de Pselaphacus signatus Guérin-Méneville, 1841 foram observados convivendo nos mesmos basidiomas em fragmentos de Mata Atlântica no município de Viçosa, Minas Gerais. As duas espécies são muito semelhantes quanto à morfologia externa e a diferença mais conspícua está na coloração elitral. Nosso objetivo é verificar se P. signatus e P. dentatus são de fato espécies distintas, ou correspondem a uma única espécie, o que tornaria necessário a sinonimização desses nomes. Para isso, faz-se necessário uma análise comparativa de estruturas até então não estudadas no gênero. Exemplares depositados na Coleção Entomológica do Laboratório de Sistemática e Biologia de Coleoptera (CELC, DBA/UFV) foram dissecados sob estereomicroscópio e seus escleritos extraídos, corados e fotografados. Detectamos um potencial dimorfismo sexual na região do frontoclípeo: em ambas as espécies, os machos apresentam, na extremidade anterior, uma profunda emarginação internamente mais ou menos angulada, enquanto as fêmeas possuem um contorno arredondado. Também foi analisada a terminália abdominal masculina e feminina de ambas as espécies. Nesse caso, a diferença mais notável é na cabeça do flagelo peniano: apesar de igualmente bifurcada em ambas as espécies, em P. signatus há uma emarginação mais profunda em forma de U, com bordas laterais anteriormente pontiagudas e mais ou menos convergentes; enquanto em P. dentatus a emarginação é mais rasa, as bordas laterais anteriormente truncadas e levemente divergentes. Além disso, em P. signatus a borda posterior da cabeça flagelar possui um estreito prolongamento, ausente em P. dentatus. Tais características corroboram a hipótese de que os dois fenótipos correspondem de fato a espécies distintas. No entanto, mais indivíduos precisam ser coletados, criados em laboratório, observados em campo e em laboratório, e o estudo comparativo será aprofundado. Espera-se, com isso, que se adicione muito ao conhecimento sobre essas duas espécies peculiares de besouros micetócolos. |