Resumo |
O presente trabalho é um recorte da dissertação de mestrado defendida em fevereiro de 2020, no Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Viçosa, intitulada “As políticas para o Ensino Médio no Brasil e suas relações com o BID (2003-2016)”. Na dissertação o nosso principal objetivo foi analisar a influência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) nas políticas para o Ensino Médio no Brasil, entre 2003 e 2016, e para tanto analisamos documentos do BID e políticas educacionais federais. Aqui apresentamos as análises referentes aos documentos do BID, “Análisis del Apoyo del BID a la Educación Secundaria: Mejora del Acceso, la Calidad y las Instituciones (1995-2012)” e “Melhores Práticas em Escolas de Ensino Médio no Brasil”, publicados em 2013 e 2010, respectivamente. Como método, usamos a análise de conteúdo orientada pelo materialismo histórico-dialético. A partir da leitura dos dois documentos, emergiram as seguintes categorias: Responsabilidade Profissional, Avaliação, Formação Docente e Financiamento. Essas quatro categorias nos possibilitaram compreender que o principal objetivo do BID é a formação de um novo profissional da educação. No que se refere à responsabilidade profissional é destacado que o professor deve ser comprometido, buscar melhorias na formação, ter uma boa imagem de si e se responsabilizar pelos sucessos e fracassos dos alunos. A categoria avaliação mostra que as avaliações são tidas como parâmetro para o currículo, metodologias e financiamento, além de serem apresentadas como forma de melhorar a qualidade da educação. No que concerne à formação docente, o BID defende a formação inicial de qualidade, capacitação em serviço, processos seletivos e critica a pós-graduação, indicando que esse tipo de formação afasta os docentes da Educação Básica. A última categoria de análise é financiamento, e a esse respeito temos no documento a defesa de que não é preciso aumentar o financiamento, mas gerir de forma mais eficiente os recursos, além de investi-los em áreas como tecnologias e material didático. Pelas análises empreendidas, percebemos que o professor é o ator a quem se dirigem as recomendações, prioritariamente, porém são desconsideradas as condições de trabalho docente, nas quais ele deveria desempenhar as tarefas propostas e também é desconsiderado o salário. Tal desconsideração a questões tão prementes e fundamentais para o desenvolvimento de uma educação de qualidade socialmente referenciada deixa transparecer o descaso com a educação da classe trabalhadora, presente nos documentos das agências internacionais. |