Resumo |
Influência da dieta e da densidade na imunidade e em traços da história-de-vida da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)
Na Teoria da história-de-vida, os traços funcionais são aqueles que caracterizam o ciclo de vida de um organismo e influenciam em seu “fitness”. Exemplos clássicos são o tamanho dos indivíduos, sua taxa de crescimento, sua idade na primeira reprodução e o número de descendentes gerados. Mais recentemente, o sistema imune vem sendo incluído como um importante traço funcional nessa Teoria, assim como sua modulação por fatores ecológicos e ambientais, como a qualidade e a disponibilidade de alimento. A manutenção desse sistema é custosa e compete por recursos com outras funções, como a reprodução e a longevidade, dando origem aos “trade-offs”. Os “trade-offs” podem ocorrer de maneira mais evidente a depender do estado nutricional do indivíduo. A lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) é um inseto-praga importante para produção de soja no Brasil e apresenta diferentes fenótipos (verde, preto e intermediário), que são dependentes da densidade de coespecíficos. Os fenótipos diferem em coloração e no investimento em parâmetros imunes, em acordância com a hipótese da Profilaxia Densidade-Dependente (DDP hipótese). A DDP hipótese prediz que em alta densidade há maior risco da transmissão de patógenos, havendo então maior necessidade de se investir em imunidade. Sendo assim, o presente estudo almeja investigar i) as diferenças nos parâmetros imunes; e ii) os custos relacionados ao investimento na imunidade nessa espécie. Nós utilizamos como tratamento a densidade (1 lagarta ou 4 lagartas/por pote) e a dieta (artificial ou folhas de soja). Coletamos, então, dois parâmetros imunes: número de hemócitos e atividade de lisozima na hemolinfa; e sete traços de história de vida: desenvolvimento da lagarta e da pupa, fenótipo, peso da pupa, longevidade, fecundidade e conteúdo gorduroso. Nossa predição é que lagartas criadas em alta densidade e se alimentando de folhas de soja irão apresentar um conflito de alocação de recursos mais pronunciado, resultando em um custo de investimento relacionado à imunidade nos traços de história de vida. Os principais resultados mostraram que o número de hemócitos foi mantido em maiores níveis quando a lagarta foi alimentada com dieta artificial, e três traços de história de vida aumentaram: peso da pupa, tempo de pupa e o conteúdo gorduroso. Enquanto isso, a alta densidade impactou positivamente a atividade de lisozima e negativamente o peso da pupa quando as lagartas foram alimentadas com folhas. Tanto a fecundidade, quanto a longevidade dos adultos não foi afetada por nenhum dos tratamentos. Dessa forma, concluímos que não há indicação de custos no “fitness” dos indivíduos relacionados a DDP hipótese nesse sistema, mas há diferenças substanciais na história de vida e no número de hemócitos em lagartas criadas com dieta artificial comparadas com aquelas alimentadas com a planta hospedeira. |