Resumo |
Enxerto livre é um retalho cutâneo extraído totalmente do local doador, que pode ser o próprio paciente ou doador compatível e implantado em leito receptor. Seu uso é indicado para recobrir feridas extensas resultantes de remoção de tumores, traumas, queimaduras ou quando o fechamento da ferida comprometerá a função articular ou drenagem adjacente pela retração do tecido cicatricial. Promove redução no tempo de cicatrização das feridas, nos custos do tratamento e riscos de infecções. A técnica é de simples execução, mas requer cuidados intensos no pós-operatório para garantir um microambiente favorável à embebição plasmática, neoangiogênese e formação de pontes de fibrina, fatores essenciais para sobrevivência do enxerto. Objetiva-se relatar o caso de um Pastor Alemão, 3 anos, submetido à ressecção cirúrgica de um tumor de 8cm, compatível com sarcoma de tecidos moles, com margens laterais de 1cm, além de fáscias musculares profundas, resultando em ferida extensa com exposição de tendões, ligamentos e periósteo, inviabilizando seu fechamento imediato. A ferida foi mantida aberta até formação de tecido de granulação, sendo tratada com curativos e pomada antimicrobiana, por 15 dias. Realizou-se segundo procedimento cirúrgico, no qual foi colhido retalho de pele autólogo, preparado em meio de solução salina estéril, removido tecido subcutâneo e realizadas incisões paralelas em malha. Em seguida, foi suturado com poliglecaprone 3-0 no leito receptor. Foi realizado curativo com pomada a base de penicilina e estreptomicina , óleo de girassol, imobilização do membro com bandagem e prescrito ciprofloxacina oral. O paciente era indócil, não possibilitando internação em ambiente hospitalar. As trocas de curativos eram realizadas a cada 72h e o paciente mantido em ambiente de terra e grama. Inicialmente, o enxerto apresentou áreas palidopurpúricas, aspecto indicativo de evolução saudável. Após 10 dias, a região operada apresentou edema e exsudação intensos, sendo colhido material para cultura bacteriana e antibiograma, que revelaram presença de Escherichia coli multirresistente. Após 15 dias, o enxerto tornou-se branco e gelatinoso, evidenciando sua morte. A ferida foi desbridada e tratada por segunda intenção. Os fatores que contribuem para o insucesso da técnica de enxerto livre, como infecção do sítio cirúrgico, contaminação no pós-operatório, movimentação do enxerto, hemorragia e recidiva neoplásica, podem destruir as pontes de fibrina e vasculatura neoformada, impedindo a adesão do enxerto ao sítio receptor. No caso relatado é provável que a falha se deu pela contaminação da ferida cirúrgica por coliformes carreados do meio externo por água de chuva ou pela exsudação do membro, os quais causam proteólise e acúmulo de líquido, rompendo pontes de fibrina e os brotos de microcapilares neoformados. Conclui-se que a dificuldade em controlar o paciente e prover um ambiente adequado para sua recuperação foi determinante para a falha na cicatrização do enxerto. |