Resumo |
Introdução: A diminuição do tempo de sono tem se tornado uma condição endêmica nos dias de hoje. Além disso, indivíduos que dormem menos são mais propensos à obesidade, caracterizada por uma inflamação crônica de baixo grau. Isto se deve a alterações hormonais controladoras da fome e saciedade, juntamente as sensações de recompensa, que aumentam a ingestão alimentar, principalmente por alimentos calóricos. Esse campo de estudo compete a crono-nutrição ao avaliar o comportamento alimentar perante o tempo no ciclo vigília-sono. Objetivo: investigar a relação do sono com excesso de peso, inflamação e consumo alimentar em indivíduos com risco cardiovascular. Participaram do estudo 325 indivíduos, atendidos no Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular - PROCARDIO-UFV (ReBEC nº RBR-5n4y2g). Dados sociodemográficos, clínicos, antropométricos e de consumo alimentar foram coletados do prontuário. A duração do sono curta foi considerada aquele de até 7h e adequada, maior ou igual que oito horas. Os participantes também foram avaliados quanto à prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25,0 kg/m2 para adultos e ≥ 28,0 kg/m2 para idosos). O consumo alimentar foi avaliado por meio de um recordatório 24h e os alimentos foram categorizados segundo o grau de processamento mediante classificação NOVA. Os dados foram analisados pelo software SPPS v.24, adotando nível de significância de 5%. O teste qui-quadrado foi utilizado para comparação das proporções de horas de sono de acordo com os indicadores antropométricos e o teste t de amostras independentes para comparação do consumo alimentar e marcador inflamatório segundo duração do sono. Na amostra total, 71,6% possuem excesso de peso, e 63,4% tem curta duração de sono. Entre aqueles que possuem curta duração do sono 76,8% apresentaram excesso de peso (p=0,004) e maiores valores de PCR (3,8 vs 2,2 mg/L, p= 0,020) comparados com aqueles que tiveram duração maior ou igual a oito horas de sono. Além disso, esses indivíduos apresentaram no jantar maior consumo de alimentos processados (3,8% vs 1,9%; p= 0,002) e menor consumo de alimentos in natura e minimamente processados (12% vs 17,5%; p < 0,001), comparados aqueles com duração adequada do sono. Em conclusão, a curta duração do sono teve relação positiva com o excesso de peso, o estado inflamatório subclínico e a preferência por alimentos processados no jantar em comparação a alimentos frescos. Nossos resultados reforçam a necessidade desse hábito ser considerado no diagnóstico-clínico nutricional. Mais estudos devem ser realizados a fim de se estabelecer os mecanismos envolvidos. Agradecemos a todos os voluntários que participaram deste estudo, a equipe do PROCARDIO-UFV pela excelente assistência técnica. Este projeto teve o apoio da CAPES (Código 001) e CNPq. |