Resumo |
O estudo do cotidiano, como um dos elementos centrais para a compreensão das diferentes problemáticas da realidade, deixou de ser visto como um tema superficial nas ciências sociais e humanas, passando a ser considerado um campo de estudo que permite examinar diferentes contextos e, assim, poder promover intervenções mais adequadas ao cenário pesquisado. No presente trabalho, ao examinar e debater sobre as experiências da vida cotidiana, centrou-se em um tipo de trabalho que fica subsumido em a cotidianidade, como é o caso do trabalho de vendas por catálogo. Nesse contexto, objetivou-se evidenciar se as vendas por catálogo realizado pelas mulheres no marco da cotidianidade seria um trabalho invisível. Trata-se de uma pesquisa de corte qualitativa, que foi construída a partir da pesquisa bibliográfica e documental, tendo como descritores as categorias trabalho, vida cotidiana e vendas por catálogo. Os resultados evidenciaram que, no âmbito de um modelo flexível de condições de trabalho, em condições de precariedades e perdas de direitos, pode-se incluir as vendas de catálogos ou vendas diretas. Essa nova configuração de trabalho traz um segundo componente, pois, por ser realizado, principalmente, por mulheres, não são apenas flexíveis, mas também, são subvalorizados e, muitas vezes, invisíveis, conforme relatado por Arango e Molinier (2011) e Costhek (2014). Essa invisibilidade do trabalho das mulheres está diretamente relacionada à estrutura produtiva do modelo econômico, social e cultural do capitalismo, ao retomar ao que é conhecido, como divisão sexual do trabalho, a partir de uma lógica patriarcal, no que, historicamente, o lugar da mulher estaria relacionado à sua capacidade reprodutiva e tarefas de cuidar, dando-lhe o lugar do privado, em oposição aos homens, ao qual o local do público foi designado e, portanto, trabalha fora de casa. Assim, baseando-se em Antunes (2009), pode-se classificar o trabalho associado às vendas de catálogos como um trabalho precário, subsumido na cotidianidade, com garantias limitadas, flexível, no âmbito de relações informais de trabalho sujeitas à lógica do capital; isto é, invisível, porque não faz parte da folha de pagamento dos trabalhadores nas empresas; porque é deslocalizado do emprego e não possui um local fixo para sua realização, sendo deixado para uma suposta liberdade de mulheres; porque não possui uma regulamentação legal como trabalho, mas como atividade comercial; e, também, porque no discurso social não é reconhecido como trabalho. Conclui-se que existem ocupações que, por sua forma de realização, por quem os desenvolve ou pelos discursos sociais que estão no redor deles, são pouco visíveis como trabalho, fazendo com que se pense, muitas vezes, que estes não possuem regras e nem obrigações, coisa que não é real, dada sua importância na produção e reprodução social. |