Resumo |
A lignina é o segundo biopolímero mais abundante na terra e um dos principais componentes da madeira. Mais de 50 milhões de toneladas de lignina são produzidas por ano como subproduto das indústrias de celulose e menos de 2% desse montante é utilizado na obtenção de produtos de alto-valor agregado, como lignosulfonatos, adesivos e biocombustíveis. Os demais 98% são incinerados para produção de energia que alimenta o próprio ciclo de produção da celulose. Nesse contexto, surge o interesse em estudar aplicações em biorrefinaria da lignina. Entretanto, a lignina apresenta uma estrutura bastante complexa e amorfa, cujas propriedades sofrem variações durante o processo de polpação resultando em um maior grau de heterogeneidade, sendo esse um enorme empecilho para a trabalhabilidade desse polímero. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi fracionar a lignina kraft de eucalipto utilizando-se metanol, diclorometano e uma mistura desses solventes, visando obter frações de lignina mais homogêneas e com melhores propriedades para posteriores aplicações industriais. Dois gramas de lignina kraft foram fracionados usando 20mL dos solventes orgânicos metanol, diclorometano e uma mistura metanol/diclorometano 1:1. Os sistemas foram submetidos a agitação a 150 rpm durante 2 horas à temperatura ambiente. As suspensões foram filtradas em cadinhos com óxido de alumínio e as frações retidas foram posteriormente secas em estufa a 105ºC para determinação das massas de lignina insolúvel por análise gravimétrica. O filtrado foi seco pelo método de recuperação de solvente em bateria de extração e o material residual foi pesado. As porcentagens de frações solúveis e insolúveis de lignina kraft com cada solvente foram calculadas com base na massa total do material. Os rendimentos das frações solúveis obtidas para o metanol, diclorometano e metanol/diclorometano foram de 87,4%, 25,4% e 98,4%, respectivamente. O rendimento foi elevado e satisfatório para metanol. A partir do resultado obtido para metanol/diclorometano, nota-se que o diclorometano é capaz de extrair frações de lignina complementares ao metanol. A fração insolúvel do metanol apresenta lignina mais condensada e menos polar que a fração solúvel e parte dessa lignina é solubilizada pelo diclorometano. É possível, portanto, que o diclorometano seja capaz de solubilizar frações de maior peso molecular. Quando aplicados em conjunto, o metanol solubiliza as frações de menor peso molecular e provavelmente facilita a permeação do diclorometano às frações de lignina de maior peso e que ainda não foram solubilizadas. Conclui-se, portanto, que o metanol é o solvente que proporciona o melhor rendimento da fração solúvel da lignina kraft de eucalipto e que cada um dos solventes testados age em frações bem distintas da lignina. Dessa forma, acredita-se que os materiais fracionados por metanol e diclorometano separadamente apresentarão díspares propriedades e, consequentemente, diferentes possibilidades de aplicação. |