Resumo |
O presente trabalho resulta do projeto de pesquisa “Produtividade agrícola, conflitos religiosos e modificações políticas na África Ocidental: antecedentes das revoluções muçulmanas na Senegâmbia (c. 1540-c.1770)” desenvolvido no Observatórios Atlânticos, grupo de pesquisa com sede no departamento de História da Universidade Federal de Viçosa, no período de 2019/2020. As tradições orais são documentos importantes para o estudo da história da África, sobretudo sobre a região da Senegâmbia. Esta documentação possibilita entender como essas sociedades compreendem e se relacionam com o passado. Quando consideramos os estudos sobre os mecanismos de controle e domínio da terra na África Ocidental no período anterior à colonização percebemos que ainda é um campo pouco explorado na historiografia Africanista. Nesse sentido buscamos conhecer as tradições orais das sociedades da Senegâmbia e compreender como elas podem contribuir para as análises sobre o domínio da terra nesse período. Utilizamos como fonte principal as tradições orais procedentes do National Centre for Arts and Culture – (NCAC), arquivo de história oral localizado na República da Gâmbia. Foram analisados vinte e quatro documentos, produzidos no final do século XX entre as décadas de setenta e oitenta. Eles resultam do trabalho de diversos pesquisadores que buscaram entrevistar a população ao longo da bacia do Rio Gambia e ao sul do Senegal, a fim de contribuir com a preservação e promoção do patrimônio histórico-cultural da Gambia. A metodologia para a análise dessa documentação se dividiu em duas etapas. Primeiro realizamos a transcrição e tratamento da documentação que se encontrava em arquivos digitais que não permitiam a manipulação adequada das informações. A segunda etapa consistia em um processo de catalogação da documentação, definindo quais as documentações continham meta dados, e quais regiões, linhagens, pessoas, e períodos essa documentação fazia menção. Estabelecemos um paralelo entre a documentação e a bibliografia para compreender a narrativa do informante e identificamos os fluxos de informação sobre o controle da terra. Como resultado de nosso trabalho alcançamos evidências que viabilizam novas percepções sobre os sentidos e mecanismos que as sociedades da Senegâmbia consideram para o controle da terra. A presença de expressões e práticas relatadas na documentação, como “essa terra é nossa herança” e “transformar o arbusto em terra”, possibilitou entender como essas sociedades organizam sua apreensão do passado e o local estrutural em que se encontra a terra para a construção das relações sociais, políticas e econômicas dessas sociedades. |