Resumo |
Com a publicação do relatório “To Err is Human: building a safer health system”, nos Estados Unidos em 1999, e a constatação de um número alarmante de mortes por erros médicos no país, o tema ganhou visibilidade e ensejou a criação de princípios e protocolos de segurança do paciente. Embora a maioria dos erros possa ser evitado seguindo-se princípios e procedimentos de segurança, ainda assim o profissional de saúde está sujeito a eventual erro na sua vida profissional. Nesse caso, para minimizar os danos, é necessário assumir e comunicar o erro cometido ao paciente assim que detectado. Sem habilidades avançadas para comunicações difíceis, entretanto, a chance de o médico agir de acordo com essa recomendação é mínima, tornando necessária a abordagem e o treinamento dessas habilidades no âmbito da graduação. O presente trabalho apresenta um exemplo de treinamento de comunicação do erro médico passível de ser adaptado e integrado em disciplinas de graduação de qualquer área da saúde. Trata-se de um relato de experiência do módulo “Comunicando o erro médico” de uma disciplina de habilidades de comunicação clínica cursada por acadêmicos do 4 º período de medicina da Universidade Federal de Viçosa, ocorrida em outubro de 2018. Previamente, foi distribuído aos discentes um guia de estudo sobre o tema com o intuito de despertar interesse e instrumentalizá-los para a aplicação dos conceitos, configurando uma metodologia ativa no formato de sala de aula invertida. Posteriormente, os presentes foram voluntariamente convidados a simular em pequenos grupos o atendimento a um paciente no qual o erro médico deveria ser comunicado. Para tal, os monitores da disciplina, já instruídos, fizeram o papel do paciente, enquanto os alunos atuaram como os profissionais médicos, aplicando as ferramentas de comunicação já estudadas, como o acrônimo NURS (do inglês Name, Understand, Respect, Support), apresentado na disciplina . Após as simulações, todos os participantes se reuniram com o docente, a fim de elencar as fortalezas e dificuldades encontradas na realização da atividade, e foram esclarecidas as dúvidas sobre o tema. Os alunos que interpretaram o papel de médico tiveram um bom desempenho durante a simulação e alegaram sentir-se mais capacitados para lidar com esse tipo de situação prática após a realização da tarefa. Um aspecto desfavorável na atividade foi que, sem um mecanismo de atribuição de pontos para tarefa, uma parte dos alunos não realizou a leitura prévia das referências, empobrecendo o aprendizado pelos pares na parte final da aula dedicada à discussão do exercício de aplicação. Em conclusão, pode-se dizer que a inclusão do treinamento em habilidades de comunicação do erro profissional na matriz curricular das graduações em saúde é factível em poucas horas e utilizando poucos recursos humanos, e pode ser uma forma de capacitar os futuros profissionais a executarem uma das tarefas mais difíceis com que podem se deparar no seu desempenho profissional. |