Resumo |
Historicamente, desde sua inserção no âmbito escolar brasileiro em 1851, a Educação Física ainda mantém vestígios da função de formar corpos saudáveis, numa vertente predominantemente biologicista. A partir da segunda metade da década de 1980, os reiterados questionamentos no âmbito acadêmico acerca das finalidades da Educação Física no currículo da Educação Básica culminaram no movimento renovador, que foi responsável por impulsionar inúmeras propostas de mudanças neste componente curricular, embasadas por elementos das ciências humanas e sociais. No entanto, essas propostas ainda estão longe de efetivarem na realidade social concreta das escolas de Educação Básica do país. A partir dessas constatações, notam-se situações conflitantes entre a forma como a Educação Física se faz presente na escola, os interesses e demandas dos alunos no decorrer da Educação Básica e o eixo norteador das finalidades desta área de conhecimento segundo os documentos oficiais. Esse estudo, de natureza qualitativa, analisou a Educação Física na Educação Básica na perspectiva de alunos que se encontravam matriculados nos anos que integralizam o Ensino Médio de escolas da rede pública de ensino localizadas nas cidades de Viçosa e Coimbra, MG. A partir dos dados coletados, por meio de um questionário aplicado a 196 estudantes (107 do sexo masculino e 89 do sexo feminino), foi possível afirmar que, a hegemonia do conteúdo esporte ainda se mantém dentre as demais práticas corporais nas aulas de Educação Física. Essa perspectiva tem despertado para questionamentos acerca da percepção dos professores da importância de se explorar as diferentes propostas de ensino e estratégias para a abordagem de outras temáticas que abrangem a Cultura Corporal de Movimento. Apesar da expressiva participação nas aulas, a percepção dos estudantes quanto às finalidades desse componente curricular na Educação Básica difere daquelas enunciadas nos documentos oficiais e na literatura específica. No entanto, ainda que reconheçam a importância da Educação Física na escola, afirmaram que o tratamento dado aos conteúdos não tem sido capaz de lhes proporcionar conhecimento teórico e prático suficientes para uma prática autônoma no futuro. É importante considerar outros tantos fatores no âmbito educacional que, certamente, concorrem para tal quadro na realidade social concreta onde se inserem as escolas. Fatores tais como o tipo de formação inicial recebida pelo professor, dos embates teóricos de um dado momento histórico, o grau de apoio e incentivo por parte da direção da escola, as condições materiais da escola, o entendimento da Educação Física e suas finalidades na Educação Básica por todos os envolvidos direta e indiretamente no processo de educação formal. Diante dessa situação, abrem-se caminhos para a realização de outras investigações que possam contemplar outros possíveis fatores envolvidos e, assim, contribuir nas discussões sobre o fenômeno em questão. |