Resumo |
Importantes somas foram investidas na provisão habitacional através do “Programa Minha Casa Minha Vida” (PMCMV), estimulando o reavivamento da política habitacional brasileira. O programa apresentou cobertura territorial universal, embora seus empreendimentos tenham se concentrado em periferias distantes das sedes metropolitanas, localização determinada por fatores como a diferença do valor da terra entre sede e periferia metropolitana, além de subsídios governamentais fornecidos segundo recorte territorial, natureza da moradia e faixas de renda. Inicialmente, havíamos presumido que o novo estoque habitacional alimentou fluxos migratórios, atraindo contingentes em direção à periferia ou à borda externa metropolitana. Entretanto, dados os limites das fontes de dados e do recorte temporal – manejamos os dados da Secretaria Nacional de Habitação (SNH) do Ministério das Cidades (MC), quanto aos Censos Demográficos de 2000 e 2010 –, conjecturamos, em realidade, que o PMCMV reproduziu a periferização que havia existido no passado, ratificando o alijamento socioespacial dos marginalizados. Para o presente estudo, selecionamos a Região Metropolitana de Belo Horizonte e as microrregiões a ela vizinhas. Os resultados demonstram uma correlação moderada entre provisão habitacional e migração. Os territórios que mais cresceram em termos residenciais e populacionais na década de 2000 e 2010 foram os mesmos que receberam significativos investimentos do PMCMV. Os dados também indicam a falta de diálogo com outras políticas habitacionais e a imprecisão do programa por não conseguir mitigar o déficit das sedes metropolitanas — no caso Belo Horizonte, o maior déficit da área estudada — e ao mesmo tempo criar excedentes habitacionais em áreas de expansão periférica como a microrregião de Divinópolis. Acreditamos que o PMCMV norteou-se por movimentos migratórios pregressos, sendo incapaz de romper com a reprodução da periferização social e geográfica de determinados grupos. São necessários outros estudos sobre os impactos do programa nos fluxos migratórios e ansiamos que o Censo Demográfico 2020 nos traga dados complementares sobre o fenômeno, possibilitando comparações temporais ampliadas. |