Resumo |
A presente pesquisa estuda a construção gramatical concessivo-comparativa “ATÉ QUE PARA/PRA X, Y”, instanciada em “Até que pra um homem moderno, você é bem romântico" (site: spiritfanfiction.com). A análise da construção foi realizada por meio de pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva – mais especificamente a Gramática das Construções (GOLDBERG, 1995) e Semântica de Frames (FILLMORE, 1982) – e da Teoria da Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005 apud ROCHA, 2011; OLIVEIRA, 2014). Nessa construção, X representa um sintagma nominal indefinido – isto é, um bloco linguístico que tem como núcleo um substantivo precedido pelo artigo indefinido “um” – e Y é uma oração que introduz uma ideia contrária àquela pressuposta por X. Nesta pesquisa, objetivamos (a) buscar contextos diversificados de ocorrências da construção; (b) categorizar as ocorrências em grupos segundo o escopo semântico dos itens lexicais presentes no segmento X; (c) discriminar os websites em que as ocorrências da construção estão presentes; (d) descrever a configuração gramatical da estrutura “ATÉ QUE PARA/PRA X, Y”; (e) analisar o aspecto argumentativo-avaliativo acionado pela construção; (f) discutir a relação da construção com a inserção e perpetuação de estereótipos; (g) investigar a relação entre o acionamento de frames (estereótipos evocados) e o caráter concessivo-comparativa da construção. Por propormos um estudo feito através de enunciados reais e diversos, utilizamos a ferramenta de busca Google em nossa coleta de dados. Por objetivarmos uma discussão sobre estereótipos masculinos, a busca metodológica envolveu a testagem de substantivos masculinos que iriam compor nosso termo de busca, resultando na seguinte entrada: “até que para/pra um [substantivo masculino]”, junto a termos como “homem”, “menino”, “gay” e “advogado”. Esse processo gerou 73 ocorrências válidas. Os enunciados foram ordenados em grupos segundo o campo semântico do substantivo em X, resultando nos seguintes grupos: distinção social, estado civil, faixa etária, gênero, geográfico, orientação sexual, profissional, racial e relação familiar. As análises e discussões dos enunciados apontaram para as seguintes considerações: (i) a construção está preponderantemente presente em websites nos quais costuma haver menor monitoramento gramatical e maior criatividade e liberdade linguística; (ii) os grupos faixa etária, geográfico, orientação sexual e profissional compõem 80% dos enunciados; (iii) a avaliação contida no comentário em Y é expressivamente focada no campo Julgamento, presente em 53 ocorrências nas quais avalia-se o comportamento alheio; e (iv) o uso da construção concessivo-comparativa como recurso linguístico para a avaliação de sujeitos masculinos reforça e dialoga com estereótipos difundidos no imaginário coletivo. |