Resumo |
Os transtornos de ansiedade configuram sentimentos de ansiedade e medo e estão entre as doenças psiquiátricas mais prevalentes, atingindo cerca de 3,6% da população mundial. Não há uma causa única podendo ser de origem biológica, emocional, comportamental ou decorrente de uma vida estressante, tendo o estilo de vida um papel crucial nesse contexto. Nesse sentido, o consumo alimentar é um fator relevante e pode ter efeito tanto de causa quanto de consequência quando relacionado à ansiedade. O maior consumo de grãos e vegetais parece estar associado a menor gravidade dos sintomas de ansiedade. Por outro lado, a ansiedade pode causar perda do controle inibitório, levando ao aumento do consumo alimentar que pode refletir no aumento de peso e, em longo prazo, em dificuldades no tratamento para perda de peso. Diante disso, o objetivo do estudo foi avaliar a associação entre o sentimento de ansiedade e consumo alimentar segundo o grau de processamento dos alimentos em indivíduos com risco cardiovascular. Trata-se de um estudo transversal, com 320 indivíduos com risco cardiometabólico (186 mulheres/ 134 homens, 42±16 anos), atendidos pelo Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular da UFV – PROCARDIO-UFV (ReBEC id: RBR-5n4y2g). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFV (Of. Ref. nº 066/2012/CEPH) e todos os participantes assinaram ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A ansiedade foi autorrelatada mediante seguinte pergunta “Em relação ao seu humor, você se considera ser uma pessoa: ansiosa, deprimida, extrovertida, nervosa ou se outra, qual?” O grau de processamento dos alimentos consumidos foi classificado em in natura, ingredientes culinários, processados e ultraprocessados de acordo com a classificação NOVA. Teste T de Student e Mann Whitney foram utilizados para comparar as amostras independentes, de acordo com a normalidade. Do total, 67,5% (n=216) disseram se sentir ansiosos, sendo em sua maioria mulheres (n=146). Quanto ao consumo alimentar, os indivíduos que disseram sofrer com a ansiedade tiveram em média 53,6% das calorias advindas de alimentos in natura, 7,1% de ingredientes culinários, 10,2% de alimentos processados e 23,6% de ultraprocessados. Já os não ansiosos, 58% das calorias eram provenientes de alimentos in natura, 9,2% de ingredientes culinários, 9,4% e 18,8% de alimentos processados e ultraprocessados, respectivamente. O consumo de alimentos in natura foi significativamente menor (p=0,039) e o de ultraprocessados significativamente maior (p=0,007) nos pacientes que se sentem ansiosos, quando comparados aos demais. Conclui-se que a ansiedade está associada à pior qualidade da dieta, o que a longo prazo, pode levar ao ganho de peso e à comorbidades. Portanto, a ansiedade deve ser investigada no atendimento nutricional a fim de melhorar a adesão ao tratamento de indivíduos com risco cardiovascular.
Apoio: CAPES (código 001) e CNPq |