Resumo |
A ovariohisterectomia é uma das cirurgias mais comumente realizadas na veterinária, seja como cirurgia eletiva, visando evitar prenhez indesejável ou afecções hormônio dependentes, ou como medida terapêutica em pacientes com afecções no sistema genitourinário. Tradicionalmente, para hemostasia dos plexos arteriovenosos ovarianos e corpo uterino, é descrito o uso da ligadura com fio cirúrgico. As abraçadeiras de poliamida produzidas por indústrias químicas, são utilizadas visando rapidez e baixo custo, porém a segurança de seu uso vem sendo questionada devido a frequente ocorrência de complicações tardias associadas a esse material. Objetivou-se apresentar cinco casos atendidos no Hospital Veterinário da UFV entre os anos de 2018 a 2020, de quatro cadelas e uma gata, com complicações associadas ao uso das abraçadeiras de poliamida após ovariohisterectomias eletivas, realizadas em estabelecimentos veterinários externos. Em três cadelas observou-se fístulas abdominais em região de flanco e, uma delas, apresentava hematúria secundária à abscesso renal, diagnosticado ultrassonograficamente. As outras pacientes apresentaram complicações associadas ao trato gastrointestinal, diagnosticas em exame ultrassonográfico e radiográfico de abdômen. A cadela apresentava perfuração de jejuno em decorrência de aderência ao dispositivo de travamento da abraçadeira, e a paciente felina apresentava compressão de cólon associada à granuloma cístico aderido ao remanescente de corpo uterino. Todas as pacientes foram submetidas a celiotomia exploratória para remoção das abraçadeiras e correção das alterações encontradas. As fistulas abdominais foram submetidas a desbridamento de bordas, remoção de tecido fibroso e sutura do defeito. A paciente acometida por abscesso renal foi submetida a nefrectomia direita. A paciente com perfuração de jejuno, foi submetida à enterectomia e enteroanastomose do segmento perfurado. A compressão de cólon na gata foi corrigida com remoção do granuloma cístico e remanescente de corpo uterino. As pacientes apresentaram boa recuperação pós-operatória imediata e tardia, com exceção da cadela com perfuração de jejuno que desenvolveu peritonite grave e veio à óbito dois dias após a cirurgia. A composição das abraçadeiras a base de poliamida 6.6 predispõe à reação inflamatória crônica pelo constante atrito de sua estrutura grosseira com os tecidos, levando ao desenvolvimento de granulomas, fistulas e perfuração de órgãos. Esses dispositivos não possuem qualquer regulamentação para uso cirúrgico, e não são comercializados de maneira estéril, constituindo ainda risco de contaminação cirúrgica. No ofício 00371/2015 publicado pelo CFMV, o uso desse material em procedimentos cirúrgicos é desaconselhado. Conclui-se que apesar do uso da abraçadeira de poliamida tornar a técnica mais rápida e barata, seu emprego pode gerar complicações que colocam em risco a vida dos pacientes, devendo, portanto, ser abolido da rotina veterinária. |