Resumo |
As mudanças climáticas constituem-se um dos principais desafios discutidos na sociedade, em âmbito acadêmico e técnico, abrangendo diversas áreas do conhecimento. Projeções demonstram que economias globais e cadeias de suprimentos regionais são ameaçadas por perdas advindas desse fenômeno. Os impactos das mudanças climáticas são uma ameaça sobretudo à produção agrícola, principalmente em regiões pobres e com insegurança alimentar. Pela dimensão continental do Brasil, é importante que sejam feitos estudos em âmbito regional, garantindo consideração às heterogeneidades socioeconômicas e edafoclimáticas ao longo do território e, assim, maior exatidão das conclusões. Especificamente, os impactos das mudanças climáticas tendem a ser mais severos no Nordeste. Nesse contexto, a presente pesquisa analisou as mudanças climáticas em municípios da bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu, Bahia, no período de 1986 a 2015. Foram avaliadas questões como aquecimento e aumento ou diminuição de secas e a variabilidade pluviométrica da região. Foram consideradas quatro variáveis: número anual de dias secos – Rn1mm – e de dias secos consecutivos – CDD (precipitação menor que 1 mm); número de dias anuais em que houve chuvas com volume de precipitação superior a 20 mm – Rn20mm (proxy para inundação); e percentual de dias quentes no ano – Tx90p (temperatura maior que o 90° percentil da distribuição municipal). Foi realizada análise descritiva (médias e desvio padrão) e elaboração de gráficos de dispersão e tendência, bem como mapas temporais (1986 a 1995; 1996 a 2005; e 2006 a 2015). Os resultados indicam que todas as variáveis estudadas tiveram maior variabilidade na última década, com mais irregularidade, instabilidade e ausência de padrões bem definidos. Houve tendência de redução do número de dias secos por ano, mas aumento dos dias secos consecutivos. Constatou-se diminuição das inundações nas duas primeiras décadas e maior variabilidade na última. Foi identificada tendência de crescimento do aquecimento ao longo dos anos. Conclui-se que na região estudada, embora haja redução da incidência de secas, quando ocorrem são mais intensas e mais longas. Houve diminuição de tempestades com inundação, porém na última década elas se tornaram mais irregulares e com maior variabilidade pluviométrica. Além disso, a incidência de dias muito quentes teve aumento e maior acentuação nos dez últimos anos, confirmando a expectativa inicial de acentuação da exposição às mudanças climáticas na região do Rio Paraguaçu. Portanto, formuladores de políticas deveriam programar ações de convivência com as secas e, de modo geral, de adaptação aos efeitos negativos das mudanças climáticas. Especial atenção deveria ser dada ao setor agrícola, cujas atividades dependem diretamente de variáveis como temperatura e precipitação. |