Resumo |
A série dos Guias Politicamente Incorretos..., de Leandro Narloch e Paulo Schmidt, representa o que ficou convencionado como “discurso da história mais vendido”. Com os objetivos de “jogar tomates na historiografia politicamente correta”, os autores trazem os erros das vítimas e as virtudes dos vilões, explorando a vida pessoal e psicológica de personagens históricas ligadas ao poder em prol de um “leitor curioso”. Diante disso, este trabalho teve como objetivo principal analisar, a partir da Teoria Semiolinguística da Análise do discurso, mais especificamente das categorias dos Modos de Organização do Discurso, as estratégias linguístico-discursivas presentes nos Guias Politicamente Incorretos para (re)construção das representações sociodiscursivas a respeito do “príncipe” na história do Brasil. Outros objetivos foram: perscrutar as condições e as circunstâncias que determinam a produção do “discurso da história mais vendido” nos guias; verificar (quando possível) as relações interdiscursivas estabelecidas entre a série e o discurso tradicional da História do Brasil e o imaginário sociodiscursivo sobre a questão; e examinar se há evolução no modo de construção linguístico-discursiva dessas representações no decorrer dos guias. Para depreender as características do “discurso da história mais vendido” nos guias, realizamos uma revisão de literatura. Além disso, discutimos sobre a problemática do gênero “guia” e realizamos um contraste entre definições trazidas por diversos dicionários e as próprias características das obras, levando em consideração a estabilidade relativa dos gêneros textuais proposta por Bakhtin (1997). Ademais, voltamo-nos para o corpus composto por 128 textos referentes às falas dos presidentes do Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da República e capazes de evidenciar a representação pelo discurso deles, já que o autor esclarece que a faria politicamente incorreta. Em seguida, descrevemos o corpus de acordo com categorias de análise do modo de organização enunciativo (atos delocutivo, elocutivo e alocutivo); também descrevemos os quadros de comunicação segundo Charaudeau (2016) e Mello (2004) e os contratos de comunicação do guia e das cenas internas ficcionais, tornando possível identificar estratégias linguísticas e enunciativas (como a do ethos) que contribuíram para alcançarmos nossos objetivos. Então, é possível concluir que a representação do príncipe se dá pela estratégia do ethos, a qual gera o perfil de um príncipe partindo de uma tipologia dividida entre sua credibilidade e identificação enquanto político. Assim, vemos “príncipes” virtuosos, potentes, de caráter, sérios, inteligentes, humanos, virtuosos etc., mas, em contrapartida, também vemos esses mesmos “príncipes” representados de forma completamente contrária, construindo uma imagem “não-séria”, a qual consolida os objetivos dessas obras. |