Resumo |
Atividades de origem antropogênica são fontes de diversos poluentes que se acumulam na atmosfera e causam danos à saúde, vegetação e ecossistema. Dentre esses compostos, destaca-se o ozônio (O3), classificado como poluente secundário na troposfera e que se forma através de reações dependentes da radiação solar e precursores. O O3 reage com as folhas externamente, danificando ceras epicuticulares, cutícula e tricomas. Difunde para o meio interno através dos estômatos e reage com componentes celulares gerando espécies reativas de oxigênio (ROS). A curto prazo, pode afetar processos fisiológicos alterando as taxas de fotossíntese, respiração e resposta estomática à estímulos ambientais. A longo prazo, pode ocorrer redução do crescimento e aceleração da senescência que afeta a produtividade de plantações e florestas. Eugenia uniflora L. (Myrtaceae), a pitangueira, possui vasta distribuição geográfica, ocorrendo em ambientes naturais e modificados pelo homem. Em relação à poluentes, E. uniflora demonstrou sensibilidade à chuva ácida, dióxido de enxofre e material particulado de ferro, e poluentes de área urbana. Não foram encontrados estudos que avaliassem a suscetibilidade da espécie ao ozônio. Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência do O3 em concentrações fitotóxicas sobre a anatomia e fisiologia de E. uniflora. As mudas foram obtidas na cidade de Viçosa (MG) e posteriormente transportadas para a casa de vegetação do Instituto de Botânica, em São Paulo (SP), onde foram aclimatadas por 24h. A exposição ao ar filtrado e ozônio ocorreu em câmaras de teflon com armação de aço inox associadas à um sistema de fumigação. Para o tratamento, um ozonizador foi acoplado a uma das câmaras e a concentração do poluente foi mantida em aproximadamente 100ppb.h-1. A exposição ocorreu por 4 horas/dia por seis dias consecutivos. Posteriormente foram avaliados sintomas visuais, trocas gasosas, teor de pigmentos, microscopia de luz, incluindo histoquímica para lipídeos totais, carboidratos totais e proteínas totais, conforme protocolos usuais em anatomia vegetal. Não foram registrados sintomas visuais relacionados ao ozônio. Nas plantas expostas ao tratamento, observou-se redução da taxa de assimilação líquida de carbono (A), na transpiração (E) e na condutância estomática (gs). Não foram registradas diferenças significativas para os teores de pigmentos e não houve variações morfoanatômicas entre os grupos avaliados. O teste histoquímico para carboidratos totais revelou a presença de grãos de amido no citoplasma das células de plantas expostas ao ar filtrado, mas estavam ausentes nas expostas ao poluente. Testes histoquímicos não evidenciaram diferenças para lipídios totais e proteínas totais. Conclui-se que E. uniflora exibiu alterações fisiológicas após seis dias de exposição. A redução constatada nas trocas gasosas vão ao encontro da redução de grãos de amido observada no citoplasma, uma vez que a entrada CO2 na folha é diminuída. |