Resumo |
A Primeira República constituiu-se num período rico em proposições e experiências de ensino agrícola. Neste momento foram criadas vinte e sete escolas agrícolas superiores no Brasil, no qual Minas Gerais fundou nove delas no interior da região da Zona da Mata. A Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, criada em 1922(ESAV)- núcleo original da atual Universidade Federal de Viçosa - foi uma das instituições originadas nesse contexto. A fundação deste polo educacional e seus desdobramentos socio-espaciais, em um contexto marcado pelas difusão de projetos de modernização agrícola, são objetos de estudo desta pesquisa, que busca analisar os apelos geográficos presentes nos discursos regionalistas das elites agrárias mineiras. Sua delimitação temporal-analítica se inicia em 1889 e termina em 1926, com a inauguração oficial desta instituição. Alfa e ômega do conservadorismo da sociedade brasileira - os ruralistas que compunham a Sociedade Mineira de Agricultura - advogavam no projeto de criação da Escola a “aptidão agrícola de Minas”, uma vez que o café ainda se sobressaia como principal produto agroexportador do país. Sublinha-se a principal delas: a perpetuação das relações de dominação social e econômica no campo. Nos pronunciamentos das oligarquias rurais detectamos a exaltação das riquezas naturais e potencialidades de Minas, assim como alegações de riquezas regionais que faziam menção aos aspectos pertinentes ao espaço de Viçosa (clima, altitude, natureza do local, relevo, solo fértil, presença da estrada de ferro etc.). Esses discursos que exaltavam a natureza foram estrategicamente acionados como “armas políticas” para atrair investimentos, tendo como base o território. A formulação de uma identidade mineira matense também foi capturada nos argumentos dos idealizadores da ESAV, sobretudo naqueles que orientaram a escolha da cidade para sediar a escola agrícola. Neste, verificamos a invocação do termo “sentimento geral da comunidade” cujo conteúdo evoca um sentimento de pertencimento a um dado lugar. Portanto, a manipulação da identidade regional mineira, estereotipando-a em favor dos interesses destas elites, serviu de componente ideológico relevante no processo de fundação da ESAV. Por outro lado, a construção de uma “consciência regional” baseada na ideia de pertencimento a Minas e no reforço de vantagens locacionais presentes em Viçosa visou atender os interesses de grupos locais que desejavam ampliar seus lucros investindo na produção e circulação de mercadorias. Concluímos que a Escola fez parte do projeto de modernização territorial e econômica da Zona da Mata preconizada para atender as necessidades das oligarquias agrárias que buscavam, através da criação de um epicentro educacional, promover a dinamização do setor produtivo. |