Resumo |
As expedições do naturalista alemão Hans Fruhstorfer ao Brasil no final do século XIX, mais especificamente sua passagem pelo Espírito Santo, proporcionaram a descoberta de um novo espécime de grilo que foi depositado na coleção do Museu Humboldt de Berlim. Mais de um século após sua coleta, este espécime foi identificado como pertencente ao gênero Ectecous, que possuía 3 espécies descritas, sendo esta descrita por Gorochov como E. segregatus em 1996, que a distinguiu das demais espécies do gênero através da genitália e das glândulas abdominais do macho, sem apresentar uma diagnose para a espécie ou caracterizar as estruturas da genitália. A partir dos novos registros da espécie, confirmados para Mata Atlântica na REBIO Augusto Ruschi e na Estação Biológica de Santa Lúcia, em Santa Teresa, Espírito Santo, Brasil, coletados entre 2013 e 2015, o presente trabalho traz a descrição da fêmea da espécie, a caracterização da genitália e descrição do som de chamado do macho. Além disso, é apresentado um mapa de ocorrência com todas as espécies do gênero. Os sons de chamado foram registrados em campo, no período noturno, para análise da produção do som, foram contados os dentes da fileira estridulatória (pars stridens) de pelo menos três espécimes machos, a partir da tégmina direita montada em lâmina e fotografada com microscópio. No total foram analisados 5 parâmetros acústicos. Os espécimes foram dissecados com o auxílio de um estereomicroscópio e a genitália do macho foi esquematizada com nomenclatura utilizada na caracterização da genitália seguindo a proposta por Desutter (1987, 1988). Os padrões de cores foram categorizados em claro ou escuro. As mensurações foram obtidas com uma ocular milimetrada utilizando fator de conversão. A coloração de E. segregatus difere da descrita para as demais fêmeas do gênero, sendo estas últimas descritas com padrão mais escuro, tendendo ao negro, sem apresentar o padrão difuso de coloração observado na cabeça e abdômen de E. segregatus. A papila copulatória de Ectecous segregatus se assemelha à descrita para E. tenebrosus, a qual dispõe de um esquema detalhando suas peças esclerotizadas em formato de “T”. Para E. cantans a informação geral de seu formato é de aspecto arredondado, sem detalhamento das peças esclerotizadas. Acreditamos que para Ectecous a morfologia da papila copulatória seja útil para a separação das espécies. O número de dentes observados na pars stridens em E. segregatus é de 186 dentes, menos do que observado em seus congêneres. Dentre as espécies do gênero, apenas E. tenebrosus havia tido seu som de chamado descrito, tendo E. segregatus estridulação com padrão de notas possuindo mais que o dobro de notas agrupadas e com banda de frequência mais baixa, entre 3290 Hz e 3360 Hz. Quanto à distribuição geográfica do gênero observa-se uma distinta divisão entre as ocorrências das espécies no bioma Amazônia e Mata Atlântica; tendo E. segregatus ocorrência confirmada apenas no bioma de Mata Atlântica. |