Resumo |
A nutrição das orquídeas no campo está diretamente relacionada à associação simbiótica com fungos micorrízicos. Essa associação é caracterizada pela presença de pelotons, que são enovelados intracelulares de hifas fúngicas formados no córtex radicular. Durante seu desenvolvimento, a orquídea digere os pelotons e absorve os elementos inorgânicos e orgânicos liberados, metabolismo esse denominado micoheterotrófico. As raízes são também órgãos de reserva de carbono, sendo comum amiloplastos na porção cortical. Neste trabalho, o amido e a colonização micorrízica foram quantificados em raízes de Cattleya walkeriana para avaliar a dinâmica de mobilização de nutrientes e de reserva de carbono. A amostragem foi realizada em dois períodos, no meio da seca (agosto/16) e no final das chuvas (março/2017). Raízes saudáveis foram coletadas de indivíduos jovens e adultos que ocorriam em um mesmo forófito localizado em um fragmento de Cerrado próximo ao município de Rio Paranaíba-MG. As raízes foram distribuídas em quatro tratamentos: raízes de indivíduos jovens (i); raízes de indivíduos adultos divididas em distais (ii), medianas (iii) e proximais (iv), utilizando o meristema apical radicular como referência. As raízes foram seccionadas transversalmente e coradas para quantificação da colonização micorrízica e do amido no córtex. Os dados foram organizados em esquema fatorial (dois períodos x três tratamentos), submetidos à ANOVA e ao teste Newman-Keuls (SNK) a 5% de significância. Raízes de indivíduos jovens e adultos apresentaram porcentagem de fragmentos e área de córtex micorrizados semelhantes, independente do período. Isso mostra a constante colonização das porções mais novas da raiz (raízes de plantas jovens e porção proximal) e a manutenção do mesmo nas porções mais velhas (regiões mediana e distal). Porções mais velhas de raiz não tendem a apresentar maior colonização micorrízica, o que pode ser explicado pela maior taxa de degradação e pela produção de fitoalexinas, compostos que limitam o crescimento fúngico. A quantidade de pelotons degradados foi maior na porção proximal, principalmente na estação chuvosa. Isso pode estar relacionado com maiores taxas de digestão de pelotons para suportar o desenvolvimento da raiz nesse período. A quantificação de amido nas secções de raiz foi elevada e variou entre os períodos analisados. Observou-se maior porcentagem de cortes com amido na seca, sugerindo que durante escassez de água a planta investe em reserva, tendo baixo consumo de nutrientes. Isso também explica a baixa porcentagem de pelotons degradados observados nesse período. Além disso, a estocagem de carbono pode ser uma resposta da planta ao estresse hídrico; e como no período chuvoso a planta investe em crescimento, tem-se a redução no estoque de amido. O desenvolvimento não provocou diferença nas quantidades de pelotons entre os períodos. Conclui-se que a idade/ porção da raiz e o período afetam a dinâmica de degradação/ estoque de amido e peloton. |