Resumo |
A restinga é uma formação vegetal relacionada com a costa brasileira, adaptada a fatores abióticos como a salinidade, ventos, disponibilidade de água doce e frequentes elevações da maré. Comunidades de formigas desempenham diversas funções nos ecossistemas como ciclagem de nutrientes, dispersão de sementes e interação com outros com outros organismos do solo. Além de serem abundantes, são de fácil amostragem, identificação e baixo custo, consideradas boas bioindicadoras de qualidade ambiental. O presente estudo teve como objetivo avaliar a comunidade de formigas de solo em áreas de restinga, testando as seguintes hipóteses: (i) a riqueza de espécies de formigas aumenta conforme aumenta a distância do mar (borda); (ii) a composição de espécies será diferente conforme a distância da borda. As coletas foram realizadas em três praias de Ubatuba- SP, durante de janeiro de 2016. Uma das praias está inserida no Parque Estadual da Serra do Mar (PESM). Em cada praia foram feitos três transectos de 100m, do cordão arenoso, passando pela vegetação herbácea do jundu (Ipomea pes-caprae), até a mata de restinga em direção ao continente. A distância entre os transectos foi de 300m. Em cada transecto foram instaladas 10 armadilhas distantes entre si 10m, totalizando 90 armadilhas. As armadilhas pitfall, continham isca de sardinha e mel; deixadas por 48h no campo. Coletamos um total de 95 espécies: Odontomachus sp.3 (predadora), foi a mais frequente (36% das amostras). Não existe diferença significativa da riqueza de espécies em função da distância da borda (Χ2=0,033, p>0,05). Segundo curva de acumulação de espécies, atingimos suficiência amostral. A composição de espécies é diferente na borda da mata quando comparada com o interior da restinga (análise de agrupamento). O número de espécies coletadas é similar a outras restingas, no entanto, o fato da riqueza não estar relacionada com a distância do mar pode indicar que a área amostrada tem a mesma influência de borda por toda a extensão do transecto, sofrendo influência do ambiente externo à restinga. No entanto, excetuando-se a praia inserida dentro do PESM, as demais restingas não são extensas, com intenso uso humano e desmatamento para construção de condomínios. A composição de espécies, provavelmente, sofreu influência da cobertura vegetal e produção de serapilheira, gerando diferentes recursos para diferentes agrupamentos de formigas ao longo do gradiente vegetacional. As formigas predadoras podem ser consideradas espécies-chave em ecossistemas, controlando as populações de suas presas. Concluímos que o grande impacto antrópico sobre a restinga diminui a diversidade de formigas, já que áreas de interior da mata, apresentam comunidade de formigas diferente daquela que ocorre nas bordas. Essa intervenção humana, devido a especulação imobiliária, pode acarretar no desequilíbrio desse ecossistema, onde a mirmecofauna é componente importante no funcionamento das interações no solo da restinga. |