Resumo |
Os fungos endofíticos micorrízicos e não micorrízicos trazem vários benefícios para a planta hospedeira, a maioria deles relacionados com a nutrição da orquídea. Ao se considerar o tamanho reduzido das sementes de orquídeas e a falta de tecidos de reserva, a associação simbiótica com fungos micorrízicos endofíticos é essencial à germinação e ao desenvolvimento do embrião. Na Serra do Cipó, destacam-se Grobya cipoensis e Sophronitis brevipedunculata, espécies endêmicas e que são consideradas criticamente em perigo e vulnerável, respectivamente. Ambas ocorrem sobre o forófito Vellozia gigantea, também endêmica da Serra do Cipó. Nesse contexto, tem-se por objetivo avaliar a diversidade morfológica dos fungos endofíticos de raízes das orquídeas G. cipoensis e S. brevipedunculata e o efeito desses fungos na germinação simbiótica de sementes de S. brevipedunculata. Isolou-se 21 fungos endofíticos, sendo cinco de G. cipoensis e 16 de S. brevipedunculata. Após análise das características morfológicas quantitativas (taxa de crescimento e diâmetro de colônia) e qualitativas (cor, aspecto, presença de micélio aéreo, de contorno, de anéis concêntricos e esporulação) das culturas por técnicas biométricas, observou-se variabilidade entre os isolados e nenhuma semelhança entre os isolados oriundos das orquídeas, permitindo inferir que não há compartilhamento de simbiontes entre as plantas. A análise da germinação foi feita a partir da coinoculação das sementes e dos isolados fúngicos em placas de Petri com meio aveia. Utilizaram-se quatro repetições por isolado. Os estágios de desenvolvimento dos embriões foram avaliados semanalmente, durante trinta dias. Os testes de germinação simbiótica sugerem que nenhum dos fungos obtidos foi capaz de sustentar a germinação da semente e/ ou o desenvolvimento dos protocormos, pois todas as repetições, incluindo o controle (contendo apenas sementes), apresentaram o mesmo padrão de desenvolvimento. Isso indica uma grande especificidade quanto aos fungos simbiontes que auxiliarão no início do ciclo de vida da S. brevipedunculata. A observação de embriões entumecidos e o rompimento da testa mostra que sementes de S. brevipedunculata não dependem dos simbiontes para o início da germinação. Porém seu desenvolvimento é interrompido na ausência da relação simbiótica. Logo, a interação com o fungo adequado é essencial para o total desenvolvimento do embrião até formação de plântula. Mesmo que a variabilidade morfológica observada entre os fungos de S. brevipedunculata sugira que a orquídea seja generalista quanto sua associação com endofíticos na fase adulta, a ineficiência dos fungos em germinar ou sustentar o desenvolvimento dos protocormos, sugere grande especificidade na associação com fungos no início do ciclo de vida. O conhecimento da diversidade de fungos endofíticos é importante para que seja possível realizar estratégias de preservação da biodiversidade, uma vez que várias orquídeas se encontram ameaçadas de extinção. |