| Resumo |
Coleções científicas zoológicas são centros fundamentais para estudos de biodiversidade e ecologia das espécies, pois guardam informações sobre distribuição, evolução, taxonomia, morfologia e variações inter e intraespecíficas. Adicionalmente, contribuem para a conservação e educação ambiental, apoiando diversos projetos científicos em todo o mundo. Espécies amplamente distribuídas e comumente encontradas nas coleções podem auxiliar no entendimento de padrões ecológicos, e fornecer dados relevantes a respeito da ocupação de habitats e possíveis respostas às mudanças ambientais. Um exemplo de espécie amplamente distribuída é o lagarto Ameiva ameiva (1758), ocorre no Brasil, e em outros países da América do Sul e Central. Apresenta hábito diurno, e ocupa predominantemente ambientes abertos, como bordas de mata, clareiras e áreas urbanas. Considerando a amplitude de distribuição de A. ameiva, esse trabalho teve o objetivo de verificar a distribuição da espécie e se há algum indício de preferência de hábitat. Para isso, analisamos os exemplares tombados na Coleção Herpetológica do Museu de Zoologia João Moojen, da Universidade Federal de Viçosa (MZUFV). Os dados datam de 1973 à 2023, representando, aproximadamente, 50 anos de janela temporal. Os espécimes de A. ameiva são provenientes de dez estados brasileiros: Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e Roraima. Esses registros corroboram com a ampla distribuição da espécie registrada na literatura, e correspondem à diferentes fitofisionomias, abrangendo os biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, e áreas de ecótonos, bem como áreas antropizadas. Observamos ainda a continuidade dos registros ao longo das décadas, não havendo um declínio aparente. Esses dados evidenciam a persistência da espécie em ambientes que foram sendo modificados, reforçando seu possível papel como bioindicador de áreas abertas e degradadas. Além disso, os dados indicaram uma possível tolerância à alterações na paisagem, com uso frequente de áreas abertas e presença de mosaicos de vegetação natural e antropizada. Essas informações são essenciais para compreender a dinâmica das populações de lagartos em cenários de fragmentação de hábitat e suas adaptações ao longo do tempo. Concluímos que os exemplares de A. ameiva, assim como outras espécies presentes em coleções zoológicas, podem revelar muito mais do que somente registros taxonômicos, mas também servirem como modelos para demais estudos ecológicos. Ressaltamos ainda a contribuição das coleções científicas para os mais diversos estudos, de modo que, investir na manutenção, digitalização e estrutura de coleções zoológicas, seria uma estratégia eficaz para gerar conhecimento aplicado à conservação da herpetofauna brasileira. |