| Resumo |
A Educação do Campo no Brasil enfrenta desafios históricos, especialmente pela presença de currículos muitas vezes desconectados da realidade camponesa. Este estudo foi desenvolvido no âmbito da especialização em Educação do Campo – Escola da Terra e nasce da experiência de uma professora que, ao transitar entre o cotidiano agrícola e a sala de aula, identificou a necessidade urgente de ressignificar o ensino da disciplina Agricultura com Bases Ecológicas. Oferecida como componente eletivo no Ensino Médio Integral de uma Escola do Campo, a disciplina, com encontros semanais, revela-se uma força pedagógica para articular saberes científicos e populares, valorizando as diversidades socioculturais dos sujeitos do campo e promovendo uma reflexão crítica sobre diferentes concepções de agricultura. Inspirada na pedagogia freiriana e nos princípios da Educação do Campo, a pesquisa propõe uma metodologia que transforma a disciplina em espaço dialógico, no qual os estudantes não apenas aprendem conceitos, mas também se reconhecem como protagonistas de seus territórios. O ponto de partida foi um diagnóstico participativo com estudantes do 1º e 2º ano do Ensino Médio, por meio de entrevistas com suas famílias e rodas de conversa. Dessa escuta emergiram contradições significativas: o uso indiscriminado de agrotóxicos contrastando com memórias de práticas ancestrais de cultivo; o desânimo juvenil diante da ausência de perspectivas no campo; e a invisibilização de saberes tradicionais pela escola. A metodologia adotada, fundamentada nos Três Momentos Pedagógicos de Delizoicov, mostrou-se eficaz na superação da lógica bancária da educação. Na etapa de problematização, os estudantes realizaram o mapeamento de suas comunidades, promovendo um estudo da realidade. Tal movimento contribuiu para o fortalecimento da agroecologia e para a valorização dos sujeitos rurais enquanto agentes históricos de transformação. Os resultados evidenciam como a integração entre o cotidiano dos estudantes, os saberes da terra e os princípios agroecológicos conferiu vitalidade a um currículo sensível e enraizado no território. A experiência demonstrou que é possível articular diretrizes curriculares nacionais com as demandas locais, quando se adota uma postura pedagógica crítica e flexível. O plano de curso resultante ultrapassou a função de documento prescritivo, tornando-se uma ferramenta dinâmica de emancipação, evidenciando que a Educação do Campo pode ser, simultaneamente, científica, crítica e comprometida com a realidade vivida. Conclui-se que práticas pedagógicas baseadas nos Três Momentos Pedagógicos fortalecem uma educação rural mais dialógica, emancipadora e coerente com os desafios e saberes do campo. Ao valorizar as vivências dos estudantes e de suas famílias, a disciplina promove o empoderamento da juventude rural e contribui para a construção de um modelo educativo sensível às especificidades do território. |