Resumo |
A ampliação da carga horária nos cursos de Formação Inicial (FI) em Licenciatura em Educação Física (EF) nem sempre reflete diretamente no aumento de disciplinas didáticas, ou disciplinas que dialoguem com Marcadores Sociais de Diferença (MSD), que são sistemas de classificação que organizam a experiência ao identificar certos indivíduos em determinadas categorias sociais. MSD envolvem categorias relativas a gênero, classes, raça, sexualidade, dentre outros. Estes marcadores podem ser discutidos tomando como perspectiva a intersecionalidade, que pode ser entendida como uma ferramenta de análise que consegue considerar mais de um marcador social simultaneamente. Dessa forma, a análise dos currículos de FI possibilita conhecer como essas temáticas estão discutidas na sistemática da matriz curricular. Por outro lado, a possível ausência de tais temas pode representar uma lacuna de questões importantes que impactam a formação do professor. Não ter contato com temas comuns de urgência social, pode refletir também na futura atuação. Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar as ementas das disciplinas na matriz curricular do curso de Licenciatura em EF, buscado termos-chave que tematizam os MSD. Em específico, buscou-se identificar e discutir se os MSD estão presentes de forma isolada ou articulada como base na interseccionalidade. O estudo é qualitativo e, para a obtenção dos dados, foi utilizada a análise documental da matriz curricular do curso de licenciatura em EF da Universidade Federal de Viçosa. A partir da leitura das ementas das disciplinas os resultados demostram que o primeiro contato do licenciando com temas relacionados aos MSD acontece na disciplina Prática de Ensino (PE) II. Com base na ementa da disciplina, discute-se temas relacionados a inclusão, gênero, preconceito, mas, o plano analítico é genérico. Não é possível afirmar que o trabalho dos temas na disciplina acontece de forma a atender a interseccionalidade, já que na redação da ementa os temas estão organizados de formas isoladas. Outro momento em que a discussão aparece de forma específica na ementa é na disciplina PE IV, que aborda temas como pluralidade cultural e orientação sexual. Assim como na primeira disciplina citada, não é possível mencionar a interseccionalidade na condução do conteúdo que também está descrito de forma separada. Em outros momentos da FI como estágios supervisionados, disciplinas optativas na educação, com base nas ementas analisadas, pode ser que as discussões sobre MDS surjam de circunstâncias da disciplina, emergindo do contexto da aula. Contudo, é possível concluir que, de forma sistematizada e descritas nas ementas do curso analisado, somente em dois momentos ocorrem a incidência de temas relacionados aos MDS. Não é possível inferir a respeito da interseccionalidade na discussão dos conteúdos durante a formação do professor de EF. Este fato sinaliza uma lacuna que necessita de estudos futuros mais aprofundados nessa importante temática. |