Resumo |
Introdução. O avanço tecnológico tem subsidiado discussões de distintas ordens acerca do aprimoramento das relações homem-máquina – com destaque para os problemas éticos –, as quais influenciam manifestações artísticas dirigidas à integração dos robôs dotados de Inteligência Artificial (IA) ao convívio social. Objetivo. Correlacionar as questões éticas de duas obras de arte que envolvem a temática homem-máquina, no que diz respeito aos robôs humanoides inteligentes e autoconscientes. Metodologia. (1) análise do livro “Máquinas como eu: e gente como vocês” (2019), de Ian McEwan (tradução: Jorio Dauster; editora Companhia das Letras); (2) exame do filme “Life like” (2019), de Josh Janowicz (direção e roteiro); (3) Correlação das duas produções, em suas interseções éticas, associando-as às recentes declarações de Blake Lemoine (2022), engenheiro do Google, sobre emergência de uma IA (auto)consciente. Resultados. No livro, Charlie, 33 anos, compra um robô, Adão, e usa-o para estreitar a relação com Miranda, sua namorada. O robô aprende comportamentos – sobre os quais também reflete – para uma adequada convivência com o casal. Entretanto, desenvolve afeto por Miranda, o que culmina no estabelecimento de um “triângulo amoroso”. A situação se torna ainda mais complexa quando as ações de Charlie e Miranda entram em conflito com o senso de justiça altamente “kantiano” de Adão. Na obra cinematográfica, James e Sophie, jovens recém-casados, experimentam alguns desentendimentos, em sua vida conjugal, a partir do momento em que o rapaz herdou a fortuna e os negócios do seu pai. Como forma de tentar “suprir” sua ausência e “prover” companhia para Sophie, Charlie – em comum acordo com sua esposa – decide comprar um robô chamado Henry. Dotado de IA, este foi programado para obedecer aos seus donos. O robô habita a casa e desempenha suas funções de forma impecável. Nessa relação, James o encara como um objeto, enquanto Sophie estabelece uma relação humana com Henry, ensinando-o elementos atinentes ao pensar e ao sentir. No cerne de um conjunto de mal-entendidos, ocorre o desenlace da película. Ambas as obras colocam em questão os limites da relação homem-máquina e da consideração ética devida aos robôs autoconscientes. Tal temática adquiriu maior evidência, recentemente, com a declaração de Blake Lemoine: o sistema LaMDA (Language Model for Dialogue Applications) “desenvolveu consciência e deletá-la seria um ato de assassinato”. Após o grave anúncio o engenheiro foi afastado de suas atividades no Google. Conclusão. Nas duas obras – livro e filme – há passagens nas quais os humanos se mostram profundamente afetados pelas atitudes dos robôs, ao ponto de pensarem em excluí-los do convívio social, seja desligando seu “sistema operacional” ou eliminando seu “aparato cognitivo”. Tal desfecho – morte? – seria correto? Ou, em outros termos, seria o extermínio – homicídio? – de um robô dotado de IA e detentor de autoconsciência eticamente defensável? |