Resumo |
Introdução. A primeira descrição da infecção por Trypanosoma cruzi na Amazônia ocorreu na década de 1920. Desde então, casos de moléstia de Chagas (MC) – doença produzida pelo referido agente etiológico – têm sido relatados em diferentes populações, dentre as quais os indígenas da América do Sul. Todavia, o impacto da MC nesses povos ainda necessita ser melhor investigado. Objetivo. Revisar a literatura acerca dos principais aspectos da doença de Chagas em populações indígenas residentes na Amazônia é o escopo da presente comunicação. Métodos. Empreendeu-se pesquisa bibliográfica com estratégia de busca definida, com textos publicados até 31/12/2021, a partir dos descritores disponíveis no DeCS [decs.bvs.br]: (i) “Indians, South American”; (ii) “Chagas Disease”; e (iii) “Trypanosoma cruzi”. Os referidos descritores foram combinados em estratégias de busca, as quais foram utilizadas para pesquisa no PubMED [pubmed.ncbi.nlm.nih.gov] e no SciELO [scielo.org], obtendo-se os seguintes achados: Estratégia 1 – (i) + (ii) = 28 citações no PubMed; zero citação no SciELO; Estratégia 2 – (i) + (iii) = 21 citações no PubMed; zero citação no SciELO. Resultados. Identificaram-se 49 citações, cujos títulos e resumos foram lidos; selecionaram-se preliminarmente três artigos que contemplavam o objetivo supramencionado [Cabrera et al. Rev Soc Bras Med Trop 2013, 46(3):367-72; Cabrera et al. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2010, 52(5):269-72; Chico et al. Mem Inst Oswaldo Cruz 1997, 92(3):317-20]. A MC na Amazônia está associada a ciclos (peri)domiciliares e florestais, com a participação de diferentes espécies de triatomíneos e de mamíferos, incluindo o Homo sapiens. A transmissão do T. cruzi por via oral parece ser hegemônica nas populações afetadas, dentre as quais as comunidades indígenas. Os estudos dirigidos à MC nos povos amazônicos originários são ainda de pequena monta, versando especialmente sobre (i) o adoecimento infantil pela forma aguda da enfermidade (Cabrera et al., 2013), (ii) a investigação epidemiológica de nova área de transmissão (Cabrera et al., 2010) e (iii) a evidência de transmissão do parasito em população indígena isolada (Chico et al., 1997). Os trabalhos (i) e (ii) foram desenvolvidos no Peru e o estudo (iii) no Equador. Em termos da transmissão do T. cruzi, descreveu-se o provável envolvimento de triatomíneos das espécies Panstrongylus geniculatus, Rhodnius pictipes e Rhodnius robustus. Conclusão. A MC representa uma doença de grande impacto na América Latina, desde sua descrição – em 1909 – até os dias atuais. Pesquisas têm sido conduzidas em prol do entendimento dos principais aspectos da enfermidade na Amazônia, mas há poucos dados relativos às populações indígenas residentes nessa região. Os resultados preliminares dessa revisão – que ora segue em curso – apontam para a necessidade de autênticos esforços científicos, tendo em vista o estudo de uma doença manifestamente negligenciada em comunidades historicamente desfavorecidas. |