Resumo |
Introdução: A pesquisa trata-se de uma exploração etnográfica e antropológica, em várias frentes, objetivando empreender uma investigação qualitativa exploratória, abrangente e de longa duração para ampliar o conhecimento que temos sobre as formas de viver o adoecimento e de buscar cuidados de populações vulnerabilizadas de municípios que integram a microrregião de Viçosa-MG. O desenvolvimento deste projeto ocorreu no contexto da pandemia de COVID 19, sendo possível perceber que a mesma e seus desdobramentos sociais têm afetado principalmente as populações socialmente mais vulnerabilizadas. Objetivos: Descrever e analisar em uma abordagem sociocultural os processos de adoecimento e de cuidado de populações vulnerabilizadas, especificamente, a população privada de liberdade. Metodologia: Entrevistas semi-estruturadas com pessoas assistidas no presídio de Viçosa, com colaboradores-chave e com grupos focais com estudantes, que participaram do estágio de atendimento da população privada de liberdade de Viçosa. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFV. Resultados: Em relação às entrevistas com os grupos focais de estudantes de Medicina, notou-se que as queixas de saúde mental são as predominantes, em especial às relacionadas à insônia, e destaca-se a limitação no que tange à abordagem multiprofissional, além da dificuldade da implementação da mudança de hábitos diários, como a prática de atividades físicas e a higiene do sono. Entrevistando a população carcerária, confirmou-se que as queixas de saúde mental são as que, de maneira unânime, mais afetam tais indivíduos, resultando em cerca de 44% dos encarcerados em uso de psicotrópicos. A insônia é a principal queixa, que se associa à ansiedade em relação, principalmente, ao processo judiciário e à família, bem como, os fatores intrínsecos às condições carcerárias, como a superlotação das celas e a falta de cama individual. A pandemia da COVID-19 propiciou a exacerbação dos sintomas ansiosos dos encarcerados, uma vez que as visitas presenciais foram suspensas. A falta de atividades laborais realizadas dentro do ambiente prisional é um fator determinante na piora dos sintomas ansiosos e nas dificuldades para dormir. Ao decorrer das entrevistas com os colaboradores-chave, os agentes penitenciários, majoritariamente, associaram diretamente as condições físicas do cárcere com a grande porcentagem de queixas de saúde mental e insônia. Conclusão: A saúde da população carcerária em Viçosa, e seu adoecimento foram investigadas de forma qualitativa através desse estudo, com ênfase na pandemia de COVID-19. Os relatos obtidos nos questionários, de todos os três grupos distintos, evidenciaram as mesmas questões e carências do sistema prisional da cidade, que afetam diretamente a saúde dos presos. A ausência de atendimento em saúde, a infraestrutura precária, a superlotação e a ausência de atividades laborais ou recreativas que culminam no ócio são os impasses que necessitam solução. |