Resumo |
A desigualdade no acesso aos serviços ecossistêmicos, bem como a exposição à poluição do ar, ruído ou solo e água contaminados são as principais preocupações da justiça ambiental. Estudos revelam desigualdades no que diz respeito à acessibilidade e oferta de áreas verdes em bairros socioeconomicamente carentes e de alta minoria. A justiça ambiental deve ser levada em consideração no planejamento das áreas verdes não apenas pelas desigualdades em relação ao uso recreativo destes espaços por grupos vulneráveis, mas também pela vulnerabilidade desses grupos diante de riscos ambientais, como inundações e ilhas de calor. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar o Índice de Áreas Verdes Públicas (IAVP) dos bairros do município de Belo Horizonte - MG, e sua relação com a distribuição de renda da população. As camadas vetoriais das áreas verdes públicas - que incluem praças, parques, estações e reservas ecológicas - foram sobrepostas à camada vetorial dos bairros de Belo Horizonte para determinar o número e a densidade de áreas verdes por bairros. O IAVP (m² de área verde pública/habitante) foi obtido a partir da análise das camadas vetoriais das áreas verdes e dos dados sociodemográficos (população e renda) por bairro, obtidos no censo brasileiro de 2010. A correlação entre IAVP e renda média da população por bairros de Belo Horizonte foi realizada através da análise de Spearman no software Sigmaplot 14.5. Todas as camadas vetoriais foram obtidas no portal de dados espaciais da Prefeitura de Belo Horizonte (BHGeo) e analisadas no software QGis 3.22. Belo Horizonte possui um IAVP médio de 217,86 m²/hab, variando de 0 à 38.132,08 m²/hab, e renda média de 1,39 salários mínimos. A análise de correlação resultou em um coeficiente de 0,504, com P valor < 0,05, indicando uma correlação significativa, moderada e positiva entre os dados analisados. Observou-se que 41,89% (204) dos bairros do município possuem IAVP igual a zero. Dentre estes bairros, 82,35% (168) possuem renda média abaixo de um salário mínimo, como os bairros Tupi B, Jardim Leblon, Nazaré e Vila Pinho. Em relação aos bairros que possuem IAVP acima de 8,00 m²/hab, 45,23% (19) possuem renda média acima de 1,3 salários mínimos, como os bairros Mangabeiras, Belvedere e São Bento. Foi possível observar que a maioria dos bairros que tem uma renda abaixo da média do município detém os menores IAVP, o que reflete no bem-estar da população, uma vez que as áreas verdes são consideradas indicadores da qualidade de vida urbana. A cidade de Belo Horizonte precisa concentrar esforços para implementar áreas verdes nos bairros que carecem deste recurso, a fim obter uma distribuição igualitária dos serviços ecossistêmicos oferecidos por essas áreas, garantindo assim o cumprimento da justiça ambiental no município. |